Migrei de carreira no meio da pandemia e encontrei o meu lugar. Me especializei em UX Writing desde 2016, agora eu atuo na área e estou vivendo tudo que eu sempre quis. Compartilho um pouquinho do que sei no Medium e LinkedIn.
Os primeiros seres humanos que o digam! Começaram pelos desenhos, depois chegaram nos símbolos e só depois veio a língua — e há tantas possibilidades entre essas três fases que não caberia aqui. 👀
É curioso pensar que UX (User Experience) passou por processos de amadurecimento parecidos, mas com outros nomes:
Vimos o layout ser essencial para qualquer plataforma digital;
Vimos o comportamento do usuário se tornar fator decisivo;
E estamos vendo o texto ser a orientação que reúne tudo isso para dar certo.
Três etapas que revolucionaram nosso existir.
Três etapas que abriram tantas outras para aperfeiçoar os pontos de contato.
E são nos pontos de contato que a Experiência do Usuário (UX) acontece. E foi aí que eu descobri meu texto vivo: quando o usuário lia e interpretava ele.
Porque o ato de se comunicar, o ato de fazer microcopy, ux writing, não é apenas escrever. É ver a interpretação que o texto carrega dentro de um tela, com toda a bagagem que o usuário tem, com todo contexto e concisão que entregamos a ele.
Se comunicar não é fácil. Ser interpretado não é tarefa simples e muito menos isolada das outras as outras disciplinas do UX. A língua tem suas regras, mas também tem suas magias e seus vários significados quando bem alinhada com design.
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Eu só entendi o que era ser UX Writer, o que era me comunicar, quando eu fiz a primeira entrevista com o usuário. E nesse dia eu nem falei, eu apenas participei como ouvinte.
Depois de ter conversado e questionado incansavelmente os designers sobre tudo o que eu via naquelas telas, naqueles fluxos, eu aprofundei minha pesquisa, o benchmarking, os objetivos, que tipo de problema eu deveria resolver ali, qual a orientação eu deveria dar, qual questão de segurança eu deveria alertar. Tudo mapeado, tudo entendido.
Eu consegui identificar qual palavra fez sentido, qual palavra não precisou nem ser lida, qual palavra teve uma interpretação completamente diferente, qual design de tela não fez sentido com a informação que precisávamos passar, que o benchmarking A e B não valiam para o nosso usuário.
Ouvindo cada verbalização de dúvida ou certeza do usuário eu pude mergulhar no mar da semântica dele. Eu pude entender toda a bagagem que ele trazia.
E no puxar o ar, para mergulhar em uma semântica que não era minha, eu entendi que eu nunca mais ia comunicar nada sozinha. Até porquê, se você parar pra pensar comigo, o ato da comunicação não existe isolado: ele só existe em grupo.
De nada adianta você usar uma palavra que você gosta, uma frase que você achou legal ou um termo técnico que a empresa usa há anos se isso não comunicar o que precisa comunicar a quem vai ler.
Eu saí de 5 anos de redação publicitária, de uma redação que se comunicava sozinha, com suas regras e formas de conversão, para entrar de cabeça em uma área que todos os dias precisa aprender a se comunicar.
E além de eu ter que aprender como as telas vão se comunicar com o usuário, eu também estou aprendendo como comunicar sobre microcopy para um time de designers, researchers, stakeholders, marketing e até a mim mesmo.
UX Writing é uma disciplina nova para muitas empresas e muitas pessoas. Entender qual o sentido dela, como ela pode ser usada nas diversas áreas de uma organização, como encaixar o fluxo de trabalho de um writer com um designer é também papel nosso (UX Writers), e para isso a gente precisa aprender a comunicar bem como podemos dar esse passo de desenvolvimento dentro de uma empresa.
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Ao ir fundo, eu tenho a impressão que, como designers de conteúdo, a gente esquece de olhar todos os pontos de contato e foca apenas em um ponto, você também?
Em cada conversa com a minha equipe, com meu usuário, com a minha empresa e comigo mesmo eu encontro momentos em que um microcopy bem feito resolveria taaaantos problemas.
Aqui vou dar um exemplo: será que uma comunicação orientadora não resolveria um problema de manutenção? ou até mesmo evitaria uma ligação para o SAC?
Agora um que extrapola o microcopy: já ouviu sobre Plain Language? Sobre UX Writing para área jurídica? Então da um Google ou procura no Linkedin, que você vai ver como os pontos de contato são muito maiores que o ambiente digital.
O ser humano vive a comunicação em cada segundo do seu dia. Seja lendo um e-mail, apresentando um relatório, lendo jornal, fazendo reuniões, vendendo um carro, terminando relacionamentos, pedindo um aumento, postando algo no Instagram, fazendo uma busca no Google… Todos os dias a gente se comunica, a gente escreve, a gente mexe com palavras e dependendo da escolha delas, vamos conseguir comunicar o que a gente quer, ou não — nossa experiência vai ser boa ou ruim.
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O ato de se comunicar bem muda toda a experiência.
Evita interpretações erradas;
Evita erros;
Ajuda no que você precisar;
Fortalece uma visão;
Faz ser fácil uma ação;
Elimina dúvidas;
Pode ficar mais divertido;
Nos faz odiar algo;
Nos faz amar mais;
E tantas outras coisas que vemos as palavras fazerem com a gente.
E assim como o ato de se comunicar, o UX Writing também é um constante aprender, um constante mergulhar em outras semânticas e ver o texto vivo quando é interpretado.
E nessa interpretação cabem tantas coisas.
E nessa experiência cabem tantos pontos de contato.
O que vejo pra 2021 é a expansão do que podemos mergulhar, é a expansão que a comunicação nos traz, é como o UX Writing pode atuar em diversos pontos de contato. Até porque já estamos vendo ele se tornar voz. (VUI: voice user interface)
E eu que sou apaixonada por palavras, vejo meus textos todos os dias criando vidas, interpretações e orientações diferentes.
Que incrível poder acompanhar uma etapa de evolução tão de perto.