Socióloga pós-graduada em Pesquisa de Mercado, Opinião e Mídia. Atualmente é UX Researcher na Easynvest.
Atualmente, o mercado na área de UX vem se mostrando bastante aquecido. Diante dessa efervescência, podemos perceber que, nos últimos anos, houve um aumento significativo de pessoas interessadas em ingressar no ramo e eu fui uma delas.
Trabalho como pesquisadora há mais de 15 anos. Há quase dois anos venho estudando sobre UX e, recentemente, consegui ocupar uma posição como UX Researcher.
Frequentemente recebo mensagens de pessoas que estão passando pelo mesmo processo e ficam curiosas para saber o tempo que levei para fazer a minha migração porque, na verdade, é uma fase que gera certa ansiedade, demanda tempo, muita reflexão, estudo e exige que tenhamos uma dose extra de paciência.
O ponto é que a pergunta que me fazem não tem uma resposta exata que eu possa dar porque não existe uma receita a ser seguida, mas sendo bem sincera, o que consigo dizer é que esse tempo depende de vários fatores, como por exemplo, nosso grau de preparação, entender o que as empresas estão exigindo como pré-requisito para contratação, número de vagas disponíveis para a posição que buscamos, nível de concorrência e por aí vai.
Não quero e nem tenho o direito de desmotivar alguém que esteja pensando em fazer ou passando por um processo de transição de carreira, porém, pelo fato de ter passado por essa experiência muito recentemente, também acredito que não devemos romantizar essa fase que nos traz dificuldades que são intrínsecas, já que, na verdade, há vários questionamentos que precisamos fazer para decidir se queremos ou não encarar essa mudança.
Questionar-me sobre por que eu quero fazer uma transição de carreira parece ser simples, mas não é. É a primeira pergunta a ser respondida de maneira convicta para embarcar nessa jornada – que, por sinal, não é nada impossível de se fazer. Contudo, acaba sendo fundamental ter isso muito bem amadurecido para se chegar ao objetivo final que pode, sim, levar mais tempo do que se imagina.
Ao passar por esse processo, notei que profissionais de diversos ramos, têm enxergado a possibilidade de começar tudo de novo em uma área que está em ascensão e tem oferecido muitas oportunidades (infelizmente, ainda em menor escala para juniores e estagiários).
Mas, considerando o aquecimento no mercado e a quantidade de pessoas se preparando para ingressar, notam-se, inclusive, descrições de vagas um tanto quanto confusas e processos seletivos com critérios nem sempre transparentes.
Não é incomum, por exemplo, visualizarmos vagas cujos profissionais tenham responsabilidades que exijam conhecimentos técnicos que normalmente são exercidos por outros especialistas. Ao mesmo tempo, é possível notar um mercado cada vez mais exigente que busca profissionais cada vez mais qualificados.
Quem está se movimentando para fazer uma transição de carreira para a área de UX, talvez tenha notado que a comunidade é muito receptiva. Desde que comecei a estudar, encontrei muitos profissionais dispostos a conversar e a compartilhar todo tipo de conhecimento. Aproveitei e ainda aproveito muito essas trocas. Há uma infinidade de conteúdos disponibilizados gratuitamente em canais do Youtube, Instagram, LinkedIn, além de textos publicados no Medium e lives acontecendo a todo momento. Tudo isso acaba sendo algumas das possibilidades, inclusive para ampliar nossas conexões e conhecer cada vez mais profissionais do ramo.
No entanto, estudar é um dos pontos mais importantes para se fazer uma transição de carreira. Ler, não somente artigos no Medium, mas também livros e fazer parte dos diversos grupos do WhatsApp, Telegram e Facebook são necessários, assim como seja inevitável investir em cursos para se aprofundar na área, considerando que há muitas escolas que oferecem cursos de diferentes cargas horárias inclusive no formato remoto, o que eu particularmente acho muito bom.
Outro aspecto que considero ser fundamental é pesquisar muito bem sobre a instituição, professores e coordenação. Investigar se o coordenador do curso tem experiência na área de UX e a trajetória dos professores, por exemplo, na minha opinião pode ser bem oportuno. Outro ponto importante é saber se você terá a chance de fazer atividades práticas para não ficar somente na teoria, pense com carinho sobre isso!
Logo que começamos a estudar sobre UX, entendemos que o usuário deverá estar no centro do processo de design. Pessoas têm histórias, vivem em contextos diferentes e carregam experiências que devem ser consideradas quando projetamos produtos e serviços. Por esses motivos, pensar em diversidade faz todo o sentido para mim.
Várias empresas têm usado um discurso de que é ou quer ser diversa, mas, na prática precisamos reconhecer que não é o que enxergamos no nosso dia a dia. Quando eu investigo um pouco mais sobre uma empresa, raramente vejo pessoas com mais de 50 anos, mulheres ou pessoas negras em cargos de gestão. Nessas horas, me pego pensando o seguinte: onde está a tal diversidade que meio mundo tem falado?
Sendo eu, uma mulher negra que acabou de migrar para a área de UX, posso dizer, com certa propriedade, que, ao longo dos 16 processos seletivos que participei, pude enxergar pouquíssimas pessoas como eu me entrevistando, por exemplo. Ao final de cada entrevista que fazia, sempre me questionava que a tal diversidade se limitava somente a alguns posts publicados nas redes sociais.
Se você quiser saber um pouco mais sobre este assunto, veja a Pesquisa Panorama UX 2020 aqui.
Embora saibamos que exista pouca diversidade na área de UX, quando penso no assunto, não dá para achar normal que um time de Design e Produto seja formado somente por pessoas brancas, mas que as empresas deveriam se preocupar em ter pessoas de faixas etárias distintas, pessoas com deficiência, pessoas que se identificam como LGBTQIA+ e que sejam, inclusive, de outras regiões do Brasil. Por que digo isso? Porque vejo um mercado cada vez mais exigente, com empresas querendo ser cada vez mais ágeis, com startups querendo virar unicórnios da noite para o dia, mas com pouquíssimas ações voltadas para ter um ambiente realmente diverso. Se você está fazendo a sua transição de carreira, também deve refletir sobre isso.
Pense comigo: será que um produto desenhado por profissionais de uma empresa localizada em São Paulo não deveria levar em consideração outros contextos de um país com extensões continentais como o nosso? Será que há diversidade suficiente entre os funcionários dessa empresa que possam trazer outros olhares, sotaques, pensamentos e experiências que, de alguma maneira, sejam capazes de agregar valor ao produto ou serviço que trabalham?
Embora acredite que nós, profissionais da área de UX devamos reconhecer que estamos longe de atingir esse tipo de pluralidade em nosso ambiente de trabalho, acredito que temos a responsabilidade de levantarmos essas bandeiras.
Aproveito para dizer às pessoas que estejam fazendo um super esforço para realizar uma migração de carreira e talvez não tenham se dado conta dessa pauta é que considero fundamental refletir sobre o tema.
O que eu espero com tudo isso? Que, sinceramente, possamos reconhecer privilégios, que possamos refletir seriamente sobre o assunto e promover esse tipo de discussão sempre que pudermos. Você pode até achar que é pouco, mas o importante é começar!