Reconstruindo parte do que acredito todos os dias para me tornar um profissional e uma pessoa melhor.
É preciso entender e reconhecer seus limites e suas fortalezas, para, então, encontrar — ou construir — um ambiente e rotina de trabalho que te complementa e te faz feliz.
A maneira como trabalhamos mudou mais rápido do que qualquer um poderia imaginar. Este poderia ser um texto de uma visão para 2025, mas o ano atípico que vivemos em 2020 acelerou a chegada do futuro do trabalho. Mudanças profundas na nossa rotina profissional, relacionamentos do dia a dia, aceleração da digitalização dos serviços e automatização dos processos.
As mudanças não param por aí, novas posições de trabalho nasceram e algumas habilidades ganharam um novo peso de relevância. Mudanças na nossa vida, no mundo, na empresa e no negócio, somadas às cobranças de líderes e a nossa autocobrança, além da necessidade de nos adaptar e sermos ágil para darmos conta de tudo, é a receita perfeita para o esgotamento emocional.
O novo contexto que estamos vivendo está forçando as empresas a encontrarem maneiras eficientes de projetar os sentimentos de bem-estar e pertencimento aos colaboradores.
Um estudo da Limeade e Quantum Workplace descobriu que funcionários com maior bem-estar têm mais probabilidade de se sentir engajados no trabalho, apreciar seu trabalho e recomendar sua organização. 95% dos líderes de RH concordam que o esgotamento impacta a retenção de funcionários. Mas apenas 12% acreditam estarem prontas para resolver esse problema.
A experiência no trabalho nunca vai ser linear, não estaremos sempre felizes e realizados. Teremos dias ruins, vamos nos sentir frustrados e decepcionados por várias vezes. O que nos dará forças para superar essas dificuldades e as más experiências será ter os pilares desse relacionamento — pessoa e empresa — bem estruturados. Esses pilares são:
Propósito — Trabalhar em algo que realmente acreditamos. É ter nosso porquê alinhado com o da empresa.
Cultura — Trabalhar onde nos sentimos bem e respeitados. É ter crenças e valores alinhados aos da empresa.
Perspectiva — Trabalhar com espaço para crescer. É ter uma curva de crescimento nivelada a da empresa.
Porém esses pilares precisam estar apoiados em uma base sólida, que se chama: confiança.
É um sentimento de quem acredita na sinceridade de algo ou de alguém. Para a psicóloga Denise Rousseau, a confiança é expressa como “um estado psicológico que compreende a intenção de aceitar uma vulnerabilidade baseada em expectativas positivas das intenções ou comportamentos de outro”. A expectativa positiva de que o comportamento da outra parte trará benefícios mútuos.
Isso aplicado ao relacionamento pessoa-empresa é possível dividir em três principais partes:
A confiança é adquirida no cotidiano da relação. Não é um processo construído unilateralmente. Ao contrário, pressupõe experiências vividas em conjunto. A construção da confiança está, a todo o momento, sendo negociada entre as partes. Esse sentimento se desenvolve a partir de uma série de comportamentos como atenção, carinho, cumplicidade, respeito, cuidado e transparência.
Na prática, esse processo é natural, mas não quer dizer que ocorra de forma simples. Os momentos particulares dos envolvidos também influenciam essa relação. É preciso escolher tornar-se vulnerável em virtude dessa construção.
Não temos mais um limite claro entre o trabalho e nossa vida pessoal, também não sabemos exatamente qual é a melhor forma de criarmos conexões e laços com as pessoas, além de não sabermos como podemos identificar se uma outra pessoa não está bem. O sentimento de solidão e o baixo potencial de colaboração, aumentam as chances de um esgotamento emocional e a falta de um sentimento de pertencimento ao time, empresa e propósito. Ainda temos muito para explorar e aprender para lidarmos com esse “novo normal”. Mas o primeiro passo precisa ser olharmos para nós mesmos e aprendermos “o que funciona” e “o que não funciona” para a nossa saúde mental.
O Centers for Disease Control and Prevention relatou que um a cada três americanos apresentou sinais clínicos de ansiedade, depressão ou ambos desde o início da pandemia.
Entre as três principais habilidades do futuro, uma delas é autogestão. Olhar para nós mesmos nunca foi tão importante.
Eu estou no poder de como eu me sinto e não entrego esse poder a ninguém — George Kohlrieser
Controlar as nossas emoções é o caminho para estruturar boa parte dessa base de confiança. Esse controle nasce em inteligência emocional, que é uma combinação de autoconhecimento, autogestão, vulnerabilidade, empatia e feedback.
Sei que não existe uma “receita de bolo” para resolver esses problemas. Mas minha melhor aposta neste momento é: construir essa base sólida de confiança traz mais estabilidade para todos, reflete em um ritmo mais controlado e evita esgotamento emocional.
Somente de 7% a 12% das pessoas são engajadas com o trabalho. Ou seja, de 88% a 93% não são engajadas. A maior parte é ativamente desengajadas e outras são passivamente, elas apenas fazem o trabalho delas e não se importam.
Acredito que com a base sólida e os pilares estruturados (PCP-C: Propósito, cultura e perspectiva, estabelecidas em uma base de confiança), é possível projetar o sentimento de bem-estar e pertencimento que todos queremos.
Tenha em vista que alcançar esses sentimentos é uma responsabilidade de todos , é importante redobrarmos os cuidados com nossa saúde mental, aceitarmos e falarmos mais sobre nossas vulnerabilidades, construirmos relacionamentos e conexões com as pessoas, não nos preocuparmos em sermos “a melhor pessoa” e sim em sermos “cada dia melhores”, e, principalmente, respeitarmos nossos corpos.
Para que as coisas realmente funcionem no dia a dia do relacionamento com o trabalho, precisamos de duas engrenagens impulsionando uma a outra: estrutural e comportamental.
Estrutural — Empresa e liderança estabelecendo cultura, processos, métricas, orientação e organização que potencialize as pessoas e o lado comportamental delas.
Comportamental — Pessoas contribuindo, interessadas, fazendo sua parte e potencializando o lado estrutural da empresa.
Uma engrenagem não funciona sem a outra. A empresa pode ter a melhor estrutura, se as e pessoas não fizerem a parte delas, nada vai acontecer. Assim como a empresa pode ter pessoas incríveis, super afim de fazer as coisas, se o lado estrutural não permitir que as coisas aconteçam, nada vai acontecer. Empresas e pessoas precisam e potencializam umas às outras. O combustível que alimenta essas engrenagens é a confiança.
Não há equipe sem confiança — Paul Santagata, Head of Industry at Google
Ah! As outras duas habilidades do futuro são: trabalhar com pessoas e resolver problemas complexos, isso te soa familiar?
O futuro é cheio de oportunidades. Tire o melhor disso.
Eu adoraria ouvir de vocês como enxergam esse relacionamento com o trabalho e nossos principais desafios no ano de 2021. Fiquem à vontade para me chamarem no Linkedin.
Aproveito para deixar aqui algumas referências que me inspiraram:
→ Deloitte. Produção de muitos materiais e pesquisas incríveis
→ World Economic Forum. 5 coisas para saber sobre o futuro dos empregos
→ Entrepreneur. 4 tendências que estão moldando o futuro do trabalho
→ Entrepreneur. Os perigos da fadiga digital e como priorizar sua saúde mental
→ The Japan Times. A semana de trabalho de quatro dias aumentou a produtividade em 40%, mostra experiência da Microsoft no Japão (artigo de 2019)
→ The Washington Post. Futuro do Trabalho
→ Havard Business Review. Equipes de alto desempenho precisam de segurança psicológica (artigo de 2017)
✨ Sempre gosto de reforçar a admiração que tenho pela Brené Brown e Simon Sinek. Não deixe de assistir esses dois vídeos:
📕 Livros
Agradecimento especial para Maria Santos pelas contribuições neste artigo.