Na Europa desde 2015, tem mais de 13 anos de experiência, é Master Certified em UX (UXMC) pela Nielsen Norman Group e mestrando em Design Management na Northumbria University. Founder da Aela.io e Senior Product Designer na VMware Pivotal Labs em UK, realizando projetos para enterprises globais. Anteriormente esteve na SAP Concur em Praga, e foi consultor para empresas com atuação na República Tcheca, México, Suíça, EUA, UK, Canadá e Brazil, além de ter sido freelancer da Toptal US.
No final de 2020, fui convidado por uma empresa para realização de palestra interna para o time de design. A ideia era realizar a colaboração de algum conteúdo relevante, de algo que os designers tivessem como aplicar nos projetos dos clientes diversos.
Minha primeira ação foi conversar com a organizadora para entender um pouco mais sobre como o time de design trabalhava e os desafios que tinham. Foi uma boa conversa e sai com diversas ideias de possibilidades, mas além disso ela fez uma pesquisa interna e como resultado dois tópicos surgiram: 'ROI do Design' e 'Como entregar valor em qualquer tipo de negócio'.
Isso me fez ficar alguns dias refletindo, me fazendo pensar nos diversos projetos que realizei para enterprises nos últimos 4 anos na Europa, mas principalmente sobre as mudanças que aconteceram nesse ano de 2020.
Já recebi, por diversas vezes, esse pedido para falar sobre ROI do Design e também vejo diversos conteúdos que aparecem a todo momento sobre esse tema na internet.
Na mesma hora pensei: Não faz sentido falar sobre ROI do Design.
Não me entenda mal, esse tópico é sim muito importante, mas também é um tópico razoavelmente complexo e que, ao meu ver, faz muito mais sentido para empresas que têm um nível alto de maturidade em UX em Produtos Digitais.
Ao longo dos meus 14 anos de profissão, tive poucos momentos em que identifiquei alta maturidade em UX nas empresas. Quase sempre - para não falar sempre - eu realizei muito trabalho de evangelização e treinamento nessas empresas, e nesses meus anos na Europa não foi diferente.
Isso me fez perceber que a grande maioria das empresas tem um nível de maturidade médio, baixo ou muito baixo.
Em diversas empresas, o processo de Design acontece de uma forma bem tradicional. O time de design - ou único designer - realiza estudos diversos, monta protótipo e UI final, depois organiza algum tipo de documentação de projeto para realizar o handoff para o time de desenvolvimento. Esse time de desenvolvimento pega o material - no Jira - com user stories escrito pelo PO e começa então a desenvolver, conversando bem pouco com o time de design.
Análise > Design > Implementação > Testes
Essa é uma sequência normal que acontece em diversas empresas, ainda hoje em dia.
Esse cenário considera o mundo perfeito e quase sempre acontecem problemas, sendo um deles muito grave.
Esses problemas acontecem em diversos momentos, mas em geral, ainda mais durante os testes e algumas vezes os produtos implementados não fazem nenhum sentido, tendo então que reunir o time para verificar o que fazer.
Mas o que acontece quando erros aparecem nos testes desse mundo perfeito? Alguém logo irá considerar para quem deve apontar o dedo. De quem é a culpa desse erro? Eu fiz minha parte bem feita, quem é o culpado?
Infelizmente isso é mais comum do que parece e a verdade é que todos são culpados. Todos.
Esse período refletindo, me fez perceber como diversos problemas similares foram resolvidos ou até evitados.
É aí que entra o ROI do Design Colaborativo.
Nós Designers precisamos sempre ter em mente que o Design só está pronto quando está na mão dos usuários e para isso é preciso que todo o desenvolvimento do produto seja feito de uma boa forma. Isso se torna mais interessante quando se percebe que os produtos estão em eterna evolução e por isso - O Design nunca acaba.
Colaboração não é montar Google Design Sprint ou workshops de Design Thinking. É lógico que esses workshops são muito importantes e sim, uma forma de colaborar. Mas se engana quem pensa que tem um processo de trabalho colaborativo apenas fazendo isso.
Nós Designers podemos e devemos nos envolver em muito mais, tornando cada pequeno momento do projeto, algo colaborativo.
Refletindo sobre os tópicos que escrevi aqui anteriormente: Que tal sentar ao lado do PO e escrever juntos as user stories? Ou sentar ao lado do programador para verificar junto a implementação do front-end, tendo assim a chance de mudar detalhes no design que estavam tornando a vida do programador mais complicada?
Design Colaborativo é se envolver em todas as etapas do projeto, com todos os colegas do time. Todos.
Estudo de Caso: Em 2017, tive a oportunidade de participar do grande projeto milionário de transformação digital da CEMEX, uma empresa global com escritórios em quase todo o mundo. Eu fui o primeiro Designer contratado no escritório de Praga e cheguei lá pouco depois das festas de ano novo.
Cheguei bem animado para conhecer a todos e começar. Recebi meu notebook, conversei com várias pessoas e então o lead de inovação me falou: Você irá se juntar ao squad 8, sendo um produto muito importante para a empresa, mas que está passando por problemas sérios no momento.
Ao perguntar o que aconteceu, me foi explicado que o PO estava bastante estressado e que a Designer anterior havia pedido para sair, após ter tido algumas crises durante o pouco tempo em que esteve no projeto.
Na hora pensei: Lá vem treta.
Em minha primeira reunião percebi que de fato o PO estava bastante agitado e nervoso, sendo que eu não consegui identificar exatamente o motivo.
No dia seguinte, o PO veio direto me pedindo algumas coisas: "Precisamos disso, disso, disso e disso. O que foi feito antes está tudo errado e não funciona."
Ficou claro que o cenário não iria permitir um bom desenvolvimento do produto e as nossas chances de falha eram altas. Mas lembrando, o produto era um dos mais importantes para a empresa, e por isso o PO estava estressado.
Pulando alguns meses na linha do tempo, a nova plataforma foi lançada com sucesso - nosso produto foi considerado um sucesso pelos executivos - os clientes estavam satisfeitos com a primeira versão, o PO teve promoção e me ofereceram a vaga de Design Lead - mas acabei tomando outro caminho.
O que aconteceu para tudo mudar?
Eu passei a tomar café com o PO todo dia. Fora do escritório.
Pode parecer algo bobo e simples, mas isso nos ajudou a entender melhor um ao outro, assim passamos a trabalhar muito melhor juntos e pouco depois passamos a envolver outras pessoas do time, como BA e desenvolvedores. O bacana é que no fim, nos tornamos amigos e nos falamos até hoje, mesmo no momento eu estando em Londres e ele em Praga.
Um ano após o lançamento, a plataforma CEMEX GO contava com mais de 20.000 clientes satisfeitos, acelerou diversos processos internos de forma incrível e com isso ajudou a valorizar as ações da empresa. Hoje essa plataforma está ainda maior e segue crescendo, sendo um case de grande sucesso.
Esse é um dos maiores aprendizados e já utilizei em diversas outras situações. Colaboração está nos pequenos detalhes, está em se conectar com todas as pessoas do seu time e isso irá gerar um grande retorno sobre todo o trabalho de design.
A grande questão é como fazer isso agora, que estamos todos trabalhando remoto e provavelmente muitos de nós vamos continuar assim em 2021 - talvez você esteja lendo em 2030 e considere doidera essa próxima parte.
Ao longo de 2020, um dos meus projetos na VMware Pivotal Labs, foi realizar um estudo sobre o modo de trabalho e como adaptar para o cenário remoto. A Pivotal Labs é conhecida pelo trabalho colaborativo 100% do tempo e também em utilizar o método de pairing - onde sempre se trabalha em duplas.
Workshops e exercícios podem sim ser "facilmente" adaptados ao remoto - obrigado Miro! - mas descobrimos que não é tão simples quanto parece e também a "zoom fatigue", algo que não imaginávamos antes.
E como manter bons momentos de 1:1 e cafezinho?
O que eu aprendi nesse ano, é que devemos tornar os momentos de colaboração remota o mais simples possível, sempre buscando entender as necessidades e personalidade da outra pessoa, pois nem todos gostam de ficar em ligações o tempo todo.
Na minha experiência, é mais fácil marcar um vídeo-cafezinho com 1 pessoa, para ter uma conversa leve e assim ir aumenta o contato entre vocês, do que marcar diversas reuniões com o time.
2021 provavelmente será o ano do amadurecimento do cenário remoto e com isso precisamos também aprender a adaptar de forma cada vez melhor nossas técnicas para nos conectar com os colegas do time.
Quando foi a última vez que você tomou um café com um desenvolvedor do seu time?