Design System Ops no Banco Carrefour e organizadora do Vagas UX, onde cuida do projeto Guia do Product Designer e da iniciativa Vagas Para Iniciantes. Participa também da comunidade Ladies That UX no capítulo de São Paulo e dá mentorias na área pela plataforma Mentora. Ilustradora nas horas vagas.
Sim, isso também deveria ser um dos trending topics da área.
Passamos por um período conturbado para todos, não foi fácil. Continua não sendo, mas cá estamos sempre com a esperança de que o amanhã seja um pouquinho melhor e 2021 tá chegando aí pra provar isso (ou não rs).
Atuando em design, querendo ou não, tivemos certos privilégios nesse meio tempo. A adoção do home office foi em sua maioria bem aceita e fácil de ser aplicada. O trabalho em casa sempre foi algo viável e concebível pelo meio. Afinal, trabalhamos com tecnologia e aparelhos portáteis, a maior barreira sempre foram as pessoas e a burocracia mesmo. E com a necessidade, uma coisa acabou levou a outra. Mas existe um porém nessa história. Alguém parou pra pensar em como lidamos com a ansiedade e nossas próprias expectativas presos dentro de casa?
Passamos por diversas fases de espírito nesse período “at home”. A fase da produtividade em achar necessário fazer algo em casa o tempo todo e nos mostrarmos ativos e dispostos ao assistir 4 lives, 5 cursos e 7 podcasts, pensando que só assim estaríamos aproveitando o tempo de forma eficiente; a fase da descrença em achar que nada vai dar certo, que tudo é em vão e sentirmos a necessidade de ficar reclusos em nosso espaço, abstraindo de notícias e sobrecarga de informação; e a fase eterna da ansiedade (a mais difícil, ao meu ver) em querer que as coisas simplesmente voltem a ser como eram antes e sentir muitas emoções ao mesmo tempo sem saber muito bem como lidar com tudo isso.
Importante também pensar em contexto. Além de tudo que foi citado, muita gente que está lendo esse texto já faz parte ou se conecta de alguma forma com a área de design. Mas e quem não fazia e teve que passar por tudo isso nesse período e ainda assim lidar com toda a quantidade impactante de informações que a área exige?
Quem já é da área sabe e vai entender que não estou falando nenhuma novidade. Somos acostumados a lidar com muitos termos, pessoas, atualizações e processos de forma diária, sem muito esforço por já estarmos cientes do contexto e de como devemos lidar com essa sobrecarga de informação. Todo dia tem um app novo pra explorar, uma atualização de ferramenta que precisamos aprender, um vídeo que vai mudar a forma como trabalhamos e poupar horas de esforço e por aí vai. Quem nunca?
Pessoas que vem de outras áreas nem sempre tem essa percepção e facilidade em absorver conteúdos sem se deixar “transbordar”, literalmente. Muitas áreas focam em certificações, provas sociais e o famoso decoreba. Você se esforça e se qualifica. Design não funciona exatamente assim (assim com a maioria das áreas em tecnologia), ou melhor, não funciona nada assim. Você precisa investir diariamente em agregar e aplicar conhecimento diário e ele nunca vai ser o suficiente. E ainda assim é necessário saber medir essa dose.
Tenho visto relatos de pessoas que estão deixando a ansiedade falar mais alto nesse processo. Passando isso pro corpo, para a pele, para os músculos. Não deveria ser algo comum, mas esse ano infelizmente vem acontecendo com frequência. Insônia, calafrios, nervoso, impaciência, vermelhidão na pele e até coceira são alguns dos casos que vi de pessoas se sentindo mal emocionalmente e deixando transparecer no próprio corpo.
Isso é uma coisa que não falamos muito e não compartilhamos. Por receio, vergonha e até por achar erroneamente que não é tão importante, pois a própria saúde acaba ficando em segundo plano nas metas e sonhos. Apenas sabemos que acontece e deixamos de lado. Na nossa área isso tende a ser ainda mais frequente, pois estamos pilhados o tempo todo, sem tempo, com muito pra consumir e geralmente pouco ou nenhum tempo pra nós mesmos.
Pessoas que estão começando agora a explorar esse mundo novo que é o design, seja procurando por vagas, vendo conteúdos e referências de onde querem chegar ou praticando e melhorando seu portfólio. Saibam que são coisas necessárias sim, mas antes de tudo é fundamental saber dosar toda essa absorção de conteúdo. Saber preservar a nossa saúde (física e emocional) para conseguir gerenciar todas essas novidades. Não devemos nos pressionar tanto, afinal o ato de migrar para uma nova área já deveria ser considerado um passo muito grande e cauteloso, onde já estamos naturalmente dando o melhor que podemos dentro do contexto de cada um. Não adianta exigir mais do que isso.
Sempre vai ter muita gente nesse processo de descoberta e a ansiedade vem com tudo, de todos os lados, sem ter pra onde fugir. Por isso é importante saber dosar e também buscar uma rede de apoio para se permitir relaxar antes de qualquer coisa e notar que não estamos sozinhos nessa jornada.
Ao procurar por emprego na área, por exemplo, quem é iniciante muitas vezes precisa se acostumar a receber uma negativa, ou pior, não receber nem mesmo um retorno. Nem sempre teremos o tão desejado feedback mesmo que negativo. Isso faz parte do processo de saber lidar com as adversidades e com a nossa própria ansiedade. Nem sempre vai ser como a gente imagina e não compensa ficar ansioso por isso. Minha dica é sempre focar no que podemos controlar. Assim focamos uma coisa de cada vez e não nos ocupamos com coisas que não conseguimos sequer gerenciar.
Podemos focar as energias em uma entrevista que conseguimos e como melhoramos a apresentação pessoal, no teste que fizemos e que agora pode ser reaproveitado no portfólio, no feedback que recebemos de um amigo e que agora pode ser um caminho de onde melhorar. É importante aproveitar a energia gasta em todos os processos, sejam eles positivos ou negativos. Sempre compartilhar os estudos com outras pessoas e comunidades, agendar mentorias para tirar os feedbacks que podem ter ficado em falta e nunca ficar esperando algo que nós mesmos podemos correr atrás. Por isso temos várias comunidades da área para isso, podemos usar e abusar dessas redes. Assim, vamos construindo esse apoio que nem sempre podemos contar sozinhos e aprendemos a lidar com isso envolvendo outras pessoas.
Juntos, somos mais e assim conseguimos preservar nossa sanidade pra que ela acompanhe todas as nossas motivações e expectativas, ainda mais lidando com uma realidade tão inconstante.
Saúde mental é um objetivo de todos, inclusive em design. Precisamos falar mais sobre isso em todos os contextos e pontos de vista. Como você está se sentindo hoje? Como você quer se sentir em 2021?