Filho de professores, pai de um menino incrível e de um cachorro mais educado que eu mesmo. Sneakerhead, amante da cultura hip hop, graduando em design digital com especialização em design de serviços. Atualmente especialista em design de produto na Youse.
A importância de se definir novos padrões visuais e porque o design de interface precisa voltar a ser priorizado.
Você já foi construir um produto e gastou, por exemplo, 8 dias de uma sprint só com atividades de ux?
Porquê não estamos mais priorizando a busca por referências visuais? E nem as horas gastas desenhando e redesenhado uma interface?
Testando cores, fontes, grids e experimentando soluções diferentes das mais comuns para os problemas visuais?
Porquê estamos seguindo padrões visuais pré estabelecidos por outras marcas que não as nossas e por outros designers que não nós mesmos?
E porquê as tarefas para criação de uma interface visualmente agradável não estão tendo o mesmo peso que as tarefas para criação de uma boa experiência? Não são disciplinas que se complementam?
David Arty, designer e fundador dos blogs Chief of Design e Designimador, abordou este assunto e falou sobre a existência de preconceito e desvalorização do UI designer em seu artigo para o Design 2020, e na minha opinião continuamos vendo a estética e o UI designer da mesma forma. Então quero reforçar o texto dele e acrescentar meus centavos num assunto que acredito ser importante continuar em pauta para 2021.
Neste texto você não vai encontrar respostas, mas argumentos que vão mostrar que uma boa UI e um(a) bom(a) UI designer tem sim seu valor.
Feitas as perguntas, vamos lá… Quero relembrar a importância da estética e de dedicar tempo a ela em seu projeto, afinal quando uma empresa contrata um Product designer ela está procurando alguém que vai entregar uma solução de ponta a ponta, e muitas vezes o final dessa ponta é aquele design de tela e suas interações, isso significa que o product designer é o responsável, entre outras coisas, pela estética do produto que está indo para o mercado.
Existe um conceito chamado Aesthetic-Usability Effect ou o efeito da estética na usabilidade e é importante relembrá-lo para que a gente volte a discutir a relevância dessa disciplina na criação de um produto.
No livro Design Emocional, Don Norman explora um pouco desse conceito em objetos do cotidiano, vale a leitura. Mas antes dele falar sobre isso, em 1995 dois pesquisadores do Hitachi Design Center, fizeram um estudo sobre o efeito estético na usabilidade. Eles testaram 26 variações de uma interface, pedindo aos participantes para avaliarem a facilidade de uso e o apelo estético.
Segundo o relato dos pesquisadores:
Usuários são mais tolerantes com pequenos problemas de usabilidade quando consideram uma interface visualmente atraente.
Concluindo que usuários são fortemente influenciados pela estética de qualquer interface, mesmo quando tentam avaliar a funcionalidade do sistema.
Por outro lado, interfaces realmente mais fáceis e menos agradáveis visualmente podem sofrer de falta de aceitação. Estas percepções sobre a estética e facilidade de uso, influenciam a longo prazo, a forma com que o usuário enxerga a qualidade e o uso de um produto. Veja o exemplo da Apple, seus produtos tem vários problemas de usabilidade, no entanto somos muito mais tolerantes as falhas deles por entregar uma melhor experiência visual.
Todo este conceito mostra que investir tempo na criação de uma boa UI vale a pena pois existem bons resultados a serem colhidos, como: um produto parecer mais organizado, mais bem projetado, mais profissional e a relação que você cria entre a identidade da marca e usuário quando é entregue a ele um produto único e agradável, diferente do padrão visual que ele encontra em todos os outros produtos que usa no dia a dia.
Kate Moran em 2017, falou sobre o assunto para o NNGroup e deixou claro que quando o efeito estético-usabilidade acontece na vida real é ótimo, mas quando ele se apresenta durante um teste de usabilidade, pode não ser tão positivo, pois impede que sejam identificados problemas reais de uso do seu produto. Afinal sabemos que quando este efeito acontece as pessoas tendem a ser mais tolerantes aos problemas. No artigo ela explica como pesquisadores e UX designers podem captar se esse efeito esta acontecendo durante um teste de usabilidade. É válido dar uma olhada no material produzido por ela.
Espero ter te influenciado a dedicar mais tempo explorando soluções visuais. Mas quero deixar claro que não estou defendendo apenas a boa solução visual.
Na minha opinião, a interface e o design visual são tão importantes quanto o desenvolvimento de uma boa pesquisa e de uma boa experiência. Como product designers precisamos encontrar um meio termo entre o tempo dedicado em cada uma dessas disciplinas para entregarmos produtos cada vez mais relevantes e profissionais. Por exemplo, Nubank, Airbnb e Uber, são empresas que ao meu ver já descobriram como equilibrar UX e UI na construção de produtos digitais, eles entregam experiências e soluções visuais bem diferentes dos padrões que estamos vendo por ai.
Tenho percebido que cada vez mais os conteúdos de cursos para nossa área, estão focados em experiência do usuário e quase não vejo abordarem ou ensinarem essas pessoas, que irão construir novos produtos e serviços, a importância de um bom design de interface. Vejo muito foco em experiência e pouco no design e nos conceitos estéticos que uma interface precisa seguir.
Para você que leu até aqui, fica a reflexão: como você acha que podemos medir o impacto que uma interface visualmente agradável pode causar a médio e longo prazo nas relações entre produtos e usuários?
Em 2021 mude padrões visuais e experimente mais :)
Fique com uma inspiração que mostra como podemos quebrar esses padrões visuais já definidos e sermos mais ousados nas nossas interfaces:
Valeu pela moral até aqui! Se quiser continuar falando sobre esse tema ou sobre design em geral me chama pra uma conversa no Linkedin :)