Adora desenhar o mundo que deseja viver, apaixonada por pesquisa e por pessoas, atualmente é UX Designer na Zup, graduada em multimídia, trabalhou por muitos anos como designer gráfico. Adora pensar em experiência que podem mudar a vida das pessoas.
Ano passado, numa aula de design universal ministrada pela Aline Santos, foi abordado um tema chamado "ciclo da invisibilidade", relacionado com às pessoas com deficiência. Infelizmente, quando pensamos no contexto de vida desse grupo, percebemos que durante muitos anos eles foram excluídos do ciclo social. Na maioria das vezes a exclusão começa dentro de casa, através dos familiares que evitam sair com aquela pessoa por medo, vergonha e preconceito, as deixando sempre em lugares segregados, não dando a oportunidade delas estarem convivendo em sociedade.
Como não são vistas, essas pessoas não têm acesso a produtos ou serviços, logo continuam invisíveis. Sem a participação dessas pessoas no ciclo social, fica fácil convencer times e squads de não se preocupar em deixar os produtos acessíveis.
Contudo, nos últimos anos, observamos a vontade das pessoas com deficiência e outros grupos minorizados de saírem desse ciclo da invisibilidade. Estando em lugares de protagonismo, pertencendo a espaços que elas têm por direito de estar. E isso está mudando o sentido de como estamos construindo os nossos serviços.
Aos poucos as empresas estão percebendo a importância da diversidade dentro dos times, pois sabemos que pessoas diversas enriquecem os debates e nos fazem ter reflexões profundas para resolver os problemas, sempre centrada no ser humano, independente da sua diversidade. Então ter um time diverso, pensar em testes de usuários com amostragem mais diversa, ter o cuidado em todo o processo de design para incluir todas as pessoas é o pontapé inicial para desconstruirmos esse ciclo da invisibilidade.
Mas nada dessas recomendações fará sentido se não colocarmos a empatia na prática, afinal ouvimos o tempo todo a importância da empatia, mas o quanto de fato estamos praticando?
Antes de ser designer, anteriormente trabalhava como artista pesquisadora. Lembro que nos meus processos artísticos, observava no cotidiano dores de pessoas marginalizadas, que estavam nesse ciclo da invisibilidade e que dificilmente a sociedade as enxergavam. Dentro desse espaço eu exercitava o tempo todo para esvaziar a minha mente, eliminar as minhas emoções, opiniões e ideologias que eu tinha sobre o mundo, nesse processo eu queria ser nada, porque no nada cabe tudo! Era preciso fazer isso, para poder receber de uma maneira genuína a outra pessoa, de conseguir perceber e compreender a visão de mundo das pessoas e poder vivenciá-las, de me conectar mais profundamente com as pessoas e de tratar questões humanas que me interessavam.
O meu interesse por essas questões humanas, veio por causa dos meus incômodos pessoais, de fazer parte do ciclo da invisibilidade e de querer sair dele. Sou mulher, preta, lésbica e autista, nunca aceitei a ideia de moldar quem eu sou para ser aceita e incluída na sociedade, sempre acreditei que qualquer lugar no mundo é o meu lugar da maneira que eu sou. Acredito que todas as pessoas, toda a diversidade humana também tem esse direito.
Percebo que nós designers temos um papel fundamental nesse processo, temos que usar todas as nossas ferramentas e metodologias com cuidado de incluir todas as pessoas, mas antes de colocar em prática as nossas ações, precisamos dar um passo para trás e perceber o quanto a nossa comunidade escuta de fato esses usuários invisíveis.
O quanto estamos respeitando a dor de alguém que pode sofrer muito? O quanto estamos praticando a empatia nas sensibilidades e fragilidades humanas? O quanto estamos recebendo, com afeto e respeito, sensações e emoções de alguém que talvez nunca foi ouvida? O quanto estamos enxergando o outro com os olhos dele, sem julgamentos e expectativas. Será que a comunidade está mesmo preocupada com a experiência do ser humano? Será que estamos pensando em pessoas ou em features que iremos entregar?
Acredito que o nosso trabalho é muito mais do que entregar telas. Temos a possibilidade, através de pesquisas humanizadas, de ampliar questões, reforçar princípios, criar espaços de experimentação e vivenciar o mundo e a diversidade em uma outra ordem, que pode nos tocar, atravessar, afetar e ampliar o sentido de como enxergamos o mundo, construindo mais produtos e serviços de pessoas para todas as pessoas!