Mestre em Design, com ênfases em artefatos digitais e interação humano-computador. Coordenador de Design na Superintendência de Informática da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e consultor em Design de Interação. Líder local do IxDA Natal e autor do livro Experiência do Usuário em Interfaces Digitais.
A população da urbe se recolhe em seus lares em uma longa temporada conhecida como o ano de 2020. Para muitos (como eu), deveriam ter sido algumas semanas, porém com o tempo se tornaram longos meses.
Até que chegamos aqui, nas últimas semanas do ano.
Assistimos a como os governos e a iniciativa privada em diferentes partes do mundo reagiram às mudanças e urgências causadas pela busca por segurança e sobrevivência da humanidade.
Acompanhamos e sentimos o impacto dessa busca por sobrevivência e os esforços de reinvenção no mercado e nas organizações.
Nesse desafiador cenário, mais atividades passaram a performar no ciberespaço.
Observamos, por exemplo, como a migração para o remoto foi e tem sido desafiadora para muitos profissionais.
Nessa dinâmica, percebemos mais uma vez que as aclamadas palavras inovação e transformação digital só fazem sentido fora dos palcos das talks quando são acompanhadas de uma mudança cultural e estrutural nas empresas e instituições.
Isso porque mudam as ferramentas, mas algumas mentalidades corporativas do presencial tendem a permanecer, apenas migrando para o digital.
Em razão disso, em muitas organizações o remoto virou sinônimo de mais controle exercido por parte de gestores – um microgerenciamento remoto.
Outro uso do digital com cultura offline foi a alta demanda de videochamadas, que originou a denominada zoom fatigue, em função do uso exagerado desse recurso que, muitas vezes, é usado como uma maneira de sobrepor a comunicação assíncrona que o remoto pode proporcionar.
Por outro lado, também se visualizaram os benefícios vivenciados pelas pessoas, como mais tempo com a família, menos estresse com deslocamento para o trabalho, economia com despesas do presencial, dentre outros. Na gestão pública brasileira, por exemplo, houve uma expressiva economia de R$ 466.4 milhões com despesas de deslocamento e dos espaços físicos (Brasil, 2020). Há profissionais que consideram escritórios físicos algo já superado, e que o modelo distribuído é o “novo normal” das profissões e dos negócios.
Como ponto de partida, faço aqui uma breve digressão sobre esse fenômeno.
Em nossa realidade brasileira, é de conhecimento de muitos que a população que pôde ficar em casa e trabalhar remotamente representa um conjunto específico de pessoas com condições para isso. E esse é um privilégio que pode ser compreendido nos sentidos estrito e amplo do termo.
Em sentido estrito, entendemos que, como designers de interação, de interfaces e de produtos digitais, profissionalmente é um privilégio nossa categoria ter a possibilidade atuar de forma remota, bem como projetar para as interações digitais por meio de ferramentas e práticas mediadas pelas próprias tecnologias.
Isso é algo que traz muitas oportunidades para o Design. Com essa dinâmica, o mercado de produtos digitais estabelece, aos poucos, novos modelos de trabalho e de negócio – ainda que resultantes da suspensão do trabalho presencial forçada por questões sanitárias. Mesmo com os efeitos colaterais desse processo ainda em experimentação, tudo isso poderá ser bom e proveitoso no futuro. Podemos enxergar boas possibilidades que surgirão neste momento atual.
Em sentido amplo, por outro lado, tal possibilidade é um privilégio no contexto de que o remoto não é e nem será o novo normal para todas as pessoas.
No Brasil, seja pela conexão à internet, acesso à educação e qualificação, ou pelo tipo de profissão que exercem, nem todas as pessoas têm as mesmas oportunidades do digital. Além disso, somos um país de contornos sociais assimétricos. Há questões de desigualdade que afetam de forma vertebral a estrutura das nossas comunidades, mercados e profissões.
Por esse motivo, por mais desconfortáveis e antiergonômicos que sejam os problemas cotidianos do teletrabalho, estes ainda são problemas que estão nos estratos mais altos da pirâmide. Afinal, se nós sentimos algum impacto do remoto, é porque estamos em atividade nesse modelo – dentro do qual muitas pessoas não conseguiram embarcar.
Isso quer dizer que não devemos resolver os problemas ocupacionais decorrentes desse processo? De forma alguma. Devemos sim aperfeiçoar esses novos modelos de trabalho.
Por outro lado, precisamos também olhar as realidades em nosso entorno, considerando que parte fundamental do métier do designer está na pesquisa e resolução da experiência das pessoas com suas interações sociotécnicas.
Nesse sentido, cito aqui um trecho de uma visão de futuro para o Design:
Por isso é essencial compreender que, no futuro, as ações individuais deverão ser sintonizadas umas com as outras, a fim de evitar um caos ainda maior. Em cada projeto devemos questionar em primeiro lugar a importância que ele terá para a sociedade, se o resultado do processo de planejamento e de configuração é sensato, se há aspectos negativos a considerar. Não deverão ser consideradas somente as vantagens econômicas e sim os possíveis efeitos sobre a comunidade (...) os lucros a curto prazo devem ser confrontados com os efeitos a médio e longo prazo.
Embora pareça bastante atual, o trecho acima foi publicado em 1976, pelo designer e educador em Design alemão Bernd Löbach.
O texto de Löbach revela a preocupação entre muitos designers praticantes e educadores à época, quanto à necessidade de revisar o horizonte para o qual a produção industrial e tecnológica se dirigia, inserindo o componente da responsabilidade social e cultural sobre a comunidade onde os negócios operam.
Por conseguinte, é imperativo à comunidade de Design um olhar para além de suas organizações e times, de maneira a entendermos o contexto e realidade social sobre os quais estamos atuando – em especial a nossa realidade brasileira –, para aperfeiçoarmos o que estamos produzindo e sobretudo identificarmos soluções e intervenções que ainda não pensamos e públicos que ainda não contemplamos.
A cibercultura é resultado de uma integração entre diferentes formas de mídia, cf. Santaella (2003). Dessa convergência midiática, temos o texto, o vídeo e áudio em amplo acesso e poder de (produção de/interação com o) conteúdo por parte das pessoas.
Essas formas de mídia, também chamadas por Santaella de formações culturais, ocorreram em diferentes momentos da História, até chegarem no atual momento em que convergem entre si. A autora elenca tais momentos em 6 formações culturais:
Por exemplo, quando fazemos reuniões ou promovemos meetups no Zoom ou no Google Meet, nós estamos praticando a oralidade e, ao mesmo tempo, transmitindo imagens em uma lógica de mídia de massa, porém com a interação de mão dupla proporcionada pelo ciberespaço.
Da mesma forma, quando alguém publica um case de UX no Medium ou no Linkedin, essa pessoa está praticando a escrita, mediada por um ambiente digital, mas usando a lógica de reprodutibilidade da mídia impressa.
No ciberespaço (i.e., web) temos também a predominância da não linearidade: podemos navegar em uma mesma plataforma de maneiras individuais e heterogêneas. Ou seja, diferentemente da leitura de um livro com narrativa linear (início, desenvolvimento e conclusão), as experiências do usuário podem ser múltiplas e não uniformes nesses espaços – daí a ideia de hipertexto.
A cibercultura tem sido muito presente no Design, em nossas atuações profissional e também acadêmica. Neste artigo, gostaria de destacá-la de duas perspectivas:
A realidade pandêmica nos transportou e acelerou as possibilidades de infraestrutura, ferramentas e escritórios remotos. Essas práticas, que aos poucos se consolidam e se maximizam, reforçam a ideia de que profissionais de produtos digitais serão cada vez mais distribuídos, algo que já está sendo percebido por algumas empresas em diversos países que, em alguns casos, já aderiram ao modelo remoto permanente, conforme matéria publicada pelo Valor Econômico (Campos & Bigarelli, 2020).
Ainda há diversas questões em aberto. No contexto das jornadas de trabalho, por exemplo, temos o movimento 4 Day Week – encampado há alguns anos pelo empreendedor neozelandês Andrew Barnes – promove a possibilidade de redução do trabalho para 4 dias em vez dos tradicionais 5, proposta que resultaria na redução de jornadas de 40 para 32 horas semanais.
Essas são discussões que precisam ser levadas em conta, assumindo, é claro, que estamos em processo de aprender com tudo isso, tanto empresas como profissionais. Não há verdades absolutas mas pontos de discernimento e instâncias de diálogo.
No âmbito do Design de Interação e de produtos digitais, por exemplo, diversos profissionais têm debatido se as metodologias de design seriam flexíveis e adaptáveis o suficiente se aplicadas aos contextos remotos.
Em contrapartida, com relação aos softwares de prototipação, temos ferramentas cada vez mais completas e um mercado em franca concorrência. As aplicações estão mais equiparáveis em termos de oferta de funcionalidades e mais participativas, no sentido de entregar features consoantes às colaborações da comunidade de profissionais de design.
Algo que possibilitou o estabelecimento de células de trabalho ou mesmo de empresas inteiramente distribuídas foram os avanços da infraestrutura da web, principalmente durante os anos 2010. Hoje temos disponíveis diversos serviços na nuvem, inclusive modificando a ideia de consumo de produtos para a lógica de softwares como serviços (SaaS), tendência capitaneada por companhias como Google, Adobe e Microsoft. No início dos anos 2000, duas décadas atrás, ter pastas compartilhadas no Google Drive ou Dropbox ainda era – com o perdão do trocadilho – algo remoto.
Em nosso mercado, em que é possível estabelecer e aprimorar o uso do remoto, devemos fazer o máximo de aproveitamento dessas novas tecnologias para otimizar processos de aprendizagem e qualificação profissional.
Com relação a isso, há um pressuposto midiático defendido por Cortella e Dimenstein (2016) que a meu ver têm se revelado imprescindíveis nos dias hodiernos. Segundo os autores, não estamos apenas numa era da informação, mas de curadoria, em que há muito acesso à informação, porém a necessidade de saber o que é relevante. Em outras palavras, retermos muita informação não é sinônimo de estarmos bem informados.
Assim, a produção de conhecimento de designers para designers se torna oportuna para selecionar conteúdos, ferramentas, métodos e outros tópicos de relevância para a comunidade.
Essa produção de conhecimento abrange não apenas profissionais em ascensão ou de nível sênior, mas aqueles em migração de carreira também.
Nesse âmbito, além de publicações consolidadas no estrangeiro, como os blogs UX Planet, UX Magazine e UX Matters, temos aqui no Brasil os blogs Coletivo UX e UXCollective (este último em português e inglês), considerados duas das principais fontes de conteúdos produzidos por praticantes e gestores de Design no Brasil.
Nos anos recentes, houve também um movimento muito próspero de blogs de times de Design e UX das empresas brasileiras. Essa cultura vem na esteira de uma prática já consolidada nas empresas do exterior, a exemplo do que vem produzindo a Microsoft em seu canal na plataforma Medium.
Outro exemplo imediato a você que lê este artigo é esta curadoria Design 2021, que é continuidade do Design 2020 e que gerou não apenas conteúdos de texto, mas transbordou para o audiovisual, com um episódio no canal Design Team e uma série de entrevistas aos autores no canal UXNOW.
Além dos conteúdos textuais, temos produções audiovisuais protagonizadas por designers brasileiras e brasileiros.
No Youtube, existem canais brasileiros que abordam desde temas amplos – como gestão e migração de carreira, diversidade, fundamentos e inovações, sobre culturas de times, – até tópicos específicos, como prototipação de interfaces ou métodos e ferramentas de design.
Por último, temos os cursos, workshops, bootcamps e eventos da área (alguns outrora presenciais e migrados para o remoto e outros nativos digitais) sobre UI Design, carreira e outros tópicos.
Um levantamento realizado por Michelan (2020) com um grupo de designers profissionais (n=113) aponta os principais canais e fontes de informação e conhecimento para diferentes momentos de carreira (júnior, pleno e sênior) de designers no Brasil (Figura 3).
Chama a atenção também o fato de essas categorias de conteúdo estarem abundantemente disponíveis no ciberespaço.
Outro ponto relevante dos exemplos supracitados é que tais conteúdos estão muito associados a lições aprendidas no contexto do mercado nacional, dentro dos desafios que nós brasileiros temos em comum uns com os outros, gerando assim aprendizagem pela cibercultura. Essa dinâmica contribui para educação continuada de profissionais de Design.
Somado a isso, é importante destacar que a complexidade da produção de informação redirecionará os rumos da formação acadêmica nesse processo de transformação digital das organizações. Não há dúvidas de que a academia precisa passar (e está passando) por diversas remodelações e revisões necessárias nas metodologias de ensino, com novos arranjos formativos e mediações tecnológicas implicadas (quando oportunas forem).
A educação formal auxilia-nos a tornar o ofício do Design uma ciência em contínua construção e aperfeiçoamento metodológico, deontológico e epistemológico. Para tanto, docentes realizam pesquisas para constituir arcabouços teóricos que fundamentam as boas práticas – o que contribui no aperfeiçoamento mercadológico.
Além disso, é pelo método científico e pela academia que identificamos o que são panaceias e soluções “matadoras” e o que são boas práticas alicerçadas nos fundamentos de Design.
É importante considerar que nenhum treinamento, certificação ou workshop é capaz de instantaneamente elevar alguém para sênior ou atrairá altos salários. A pessoa pode praticar técnicas, mas não serão a prática real, a qual envolve toda a pressão que exercem a empresa e o cliente (Lemes, Burity & Terceiro, 2020, 30:25-58). Essa maturidade profissional se adquire com o tempo, e não apenas com certificações.
Tal discernimento é uma das contribuições essenciais da academia para educar nosso mercado. Sobre isso, a Dra. Amyris Fernandez, pesquisadora, consultora e educadora em Design, defende com muita verve a importância do zelo para com a educação formal e a carreira acadêmica.
No entanto, especialistas consideram que o desenho de carreira é importante para que designers possam saber selecionar que tipo de formação é a mais adequada para sua necessidade naquele momento. Então a educação formal, cursos livres e outras atividades, independente da natureza, são oportunos quando há autoconhecimento da pessoa a respeito de quais suas projeções profissionais (Lemes, Burity & Terceiro, 2020, 57:20–59:49).
É imperioso, entretanto, que as produções dos pilares do ensino, pesquisa e extensão das instituições acadêmicas encontrem eco no setor produtivo e na sociedade organizada. Ou seja, além das pesquisas de base (teóricas), é importante que existam pesquisas aplicadas à sociedade. Como afirma Guilherme Ranoya, professor de Design na Universidade Federal de Pernambuco (2020), “não faz sentido a gente dar aula sem entender o que acontece na prática”.
Necessário é, também, que a comunicação acadêmica aperfeiçoe cada vez mais a sua linguagem, para que a divulgação científica seja bem assimilada e apropriada pela comunidade, que investe na educação pública e no ensino privado, e seja um meio de devolver riqueza social aos nossos mais diferentes setores da sociedade.
Podemos considerar que nossas bases de trabalho e de formação continuada estão se estruturando cada vez mais em rede, e podemos usar esses recursos como ferramentas para direcionar nossa atuação para projetos que contribuam na realidade tão diversa que é a brasileira.
Destaco aqui 3 perspectivas:
O design ao longo da História adquiriu diferentes identidades. Foi assim com o design funcionalista alemão e com o diversificado design italiano no século 20. No design digital, encontramos fortes referências no design norteamericano, em produtos como a Netflix, Amazon, Google, dentre outros. Lá também se tornou a meca da pesquisa científica em usabilidade, de onde surgiram expoentes acadêmicos como Jakob Nielsen, Donald Arthur Norman e Jennifer Preece. No mercado, Jesse James Garrett e Bill Buxton são importantes autores norteamericanos em Experiência do Usuário.
Mas como é o design argentino? Como é feito o design angolano? E como cada um desses países resolvem suas próprias questões por meio do digital? E no Brasil, como é o nosso design?
Certamente, existe um design brasileiro e ele acontece em diferentes segmentos. No digital, precisamos saber como e do que é feito esse design.
Para (e por) esse nosso design, além da estética e performance das interfaces, é importante ampliarmos nossas práticas de projeto promovendo discussões e cases sobre a realidade social, cultural e econômica do nosso próprio país. Isso não anula a importância dos métodos estrangeiros, pelo contrário: contribui para um conhecimento diversificado de como o design é produzido em diferentes partes do mundo.
Em outras palavras, a busca por uma identidade do nosso design pode enriquecer tanto o método quanto as referências estéticas dos produtos digitais estabelecidos no nosso mercado. Não significa abrir mão dos princípios heurísticos que importamos de outras nacionalidades – podemos inclusive aprimorá-los e propor novos repertórios, métodos e processos à brasileira.
Projetar para nossa diversidade envolve a abordagem inclusiva dos artefatos. E isso vai além do atendimento às deficiências e necessidades sensoriais específicas – que são legítimas, mas são uma parte do pensamento inclusivo.
É o caso de serviços como o Nappy, banco de fotografias que valoriza a cultura preta e a inclusão de pessoas pretas ocupando espaços, situações e cotidianos outrora não representados por esse grupo (Figura 4).
Sobre os impactos de não incluir a diversidade de pessoas em uma visão ampla de processo, podemos citar a contribuição de França (2020, 14min32s) ao refletir sobre essa problemática em produtos de uma perspectiva sistêmica (Figura 5).
Outra perspectiva interessante está em observarmos a longevidade que nossas populações têm atingido. A sociedade está vivendo mais e, com isso, há um número considerável de pessoas acima dos 50 ou 60 anos em atividade e consumindo produtos. Só conceberemos boas soluções ao incluirmos esses públicos em nossos processos (Fernandez, 2020).
A mentalidade do Design Inclusivo altera ou no mínimo redireciona nossas performances metodológicas e técnicas: quanto ao método, nós incluímos no processo outras formas de pensar, planejar e projetar. Quanto à técnica, procedemos em linguagens acessíveis e de pertencimento.
Em suma, embora o conceito de inclusão tenha enorme abrangência, a comunidade das pessoas com deficiência é precursora desse movimento e possui um lema muito importante que nos ajuda a compreender o sentido da inclusão: “Nada sobre nós sem nós” (Werner, 1998).
Além da ergonomia de nossas interfaces, outros aspectos da ética e de uma deontologia do nosso Design serão fundamentais a profissionais de interfaces e de interação no projeto para experiências de uso.
As tecnologias da informação passaram a dominar os diferentes espaços do cotidiano, seja no âmbito profissional como na vida privada. Essas relações estão bastante permeadas pela dinâmica de geração e uso de dados pessoais para diferentes finalidades pelas organizações.
Em um nível mais complexo dessas relações de forças, a geopolítica mundial passa a ganhar contornos virtuais, em que os espaços de dominação cultural e econômica passam a ser construídos nas bases do hipertexto, isto é, o ciberespaço se torna um lugar onde os países ocupam e disputam o interesse e a relevância no cenário mundial, seja na pesquisa científica, seja nas informações de inteligência e na influência sobre os mecanismos midiáticos que operam na opinião pública.
Ou seja, se primeiro tivemos a tecnologia aplicada aos negócios, organizações e instituições, temos mais ainda o Direito aplicado às tecnologias (seja nas empresas ou nos governos).
O uso de dados, a privacidade, a desinformação (fake news) e a participação social por meio das plataformas em rede adicionam o componente do Direito Digital às relações de experiência do usuário e, no limite, trazem consequências diretas sobre o trabalho de profissionais de design em tecnologia:
Dessa maneira, estamos em um processo de profundas transformações e de revisão de conceitos e categorias que envolvem cidadania (direitos e deveres) nos espaços digitais, que se concretizam e até se confundem com a realidade física. Como designers, somos parte de um conjunto de profissionais e especialistas que contribuirão no projeto das tecnologias a mediarem essas novas dinâmicas.
Tanto a educação quanto a profissão de designers têm se consolidado no ciberespaço, principalmente na última década. E nesta que ainda se inicia, o design poderá se desenvolver ainda mais nas estruturas ciberculturais, devido ao fato de o ciberespaço permitir uma dinâmica social em que trafegam-se dados, que congregam-se em informações e que finalmente se transformam em conhecimento, o qual, no limite, produzirá as experiências.
Dessa maneira, dados, informação e conhecimento podem adquirir performances digitais alinhadas a projetos (designs) orientados à experiência e à diversidade dos sujeitos. Porém, ao passo em que esses elementos maximizam o leque de atuação de designers, se impõem novas responsabilidades éticas na construção dos artefatos, dispositivos e estruturas sociotécnicas deste século.
Werner, David (1998). Nothing About Us Without Us: developing innovative technologies for, by and with disabled persons. Palo Alto, CA: HealthWrights/Workgroup for Peoples Health and Rights.