Professor e criador de conteúdo no Codesigners, sou um designer por formação e desenvolvedor frontend por curiosidade, transitando entre as duas áreas com bastante facilidade e promovendo a convergência entre elas. Também tenho 4 gatos e prefiro skate.
Como um designer que aprendeu um bocado sobre a área de programação frontend, não consigo deixar de falar sobre o que espero para o ano de 2021 sem levar o assunto para este lado, o de aprender coisas novas.
Mas peraê Brunão, um artigo sobre design e você vai falar sobre programação? Ta maluco rapá?!
Sim e não. Bora lá entender isso. =]
Ao longo de mais de 10 anos desenhando interfaces eu já desenvolvi trabalhos usando todo tipo de processo e software - do Photoshop ao Flash, do Illustrator ao Sketch, do XD ao Figma - e também metodologias com nomes diferentes mas que partem da mesma premissa que é Explorar, Idear e Prototipar/Desenhar. Nada mudou a não ser a ferramenta.
Entretanto, uma mudança absurdamente significativa e provavelmente um divisor de águas na minha carreira foi quando eu entendi o básico de código front-end. Isso me trouxe uma visão mais ampla de como um produto digital é desenvolvido, como ele é concebido, e como as engrenagens giram dentro da carcaça bonita e funcional que eu costumava desenhar.
Aprender front-end melhorou significativamente o meu tempo de desenvolvimento, as minhas entregáveis, a rapidez na aprovação de uma interface, meu diálogo com o time de desenvolvimento em qualquer projeto, e também o tempo de implementação, pois agora eu sabia desenhar interfaces possíveis e já sabendo avaliar grau de complexidade e tempo de desenvolvimento.
Sair do conforto do design e aprender frontend foi o que me trouxe todos esses benefícios como designer, e é neste rumo que eu penso que o design em 2021 vai seguir, com mais designers querendo entender "os trem por trás das coisa".
Minha visão sobre este assunto é muito embasada no que tenho visto por aí nos grupos de design internet afora. Uma geração de designers que ha 3 ou 5 anos atrás estava interessada apenas em aprender UX e UI Design, agora que já aprendeu está querendo mais. E ainda temos a galera que está chegando agora, mas que já vendo os "veteranos" aprendendo novas soft skills, estão indo na mesma onda e se interessando por outros assuntos como um complemento para sua atividade principal como designer.
Esse design mais heterogêneo, junto e misturado com outras áreas, é o que penso sobre como o design vai se desenrolar não só em 2021 mas também ao longo dos próximos anos.
Repare bem… se você é um UX designer que veio de um curso tradicional de design, ao longo da sua carreira como UX designer você vai percebendo que cada vez menos você irá desenhar telas, e cada vez mais você estará conectado aos "trem por trás das coisas", que no caso do UX poderia ser por exemplo análise comportamental, metodologias de pesquisa, análise de dados, estatística e outros assuntos similares. Sua conexão com a parte de desenho provavelmente será a última etapa, a cereja do bolo que provavelmente consistirá apenas em alguns retângulos e anotações rabiscados em um papel.
Para o designer de UI, o mercado está abarrotado de assets e referências visuais, sem muita necessidade de reinventar a roda em vários cenários. Isso tende a diminuir o trabalho 'braçal' de ficar desenhando componentes do zero, principalmente se o projeto já tiver um Design System desenvolvido. Neste momento talvez o designer de interfaces comece a se interessar pelos "trem por trás das coisas" - que nesse contexto seria a programação frontend - e a entender como o desenho estático se transforma em uma interface interativa dentro de uma aplicação.
Temos ainda a figura do Product Designer, que em um projeto de produto digital tende a ser a figura que tem uma visão mais ampla sobre estas duas áreas (UX/UI), e que também acaba assumindo uma posição mais analítica e de intermediação entre a equipe de UX/UI e demais departamentos da empresa. Para este designer, talvez os conhecimentos sobre gestão sejam "os trem por trás das coisas" que ele vai buscar cada vez mais em 2021. E lá vai o Product Designer mergulhar no mundo dos negócios, repleto de siglas como LTV, CAC, ROI, etc., e tendo cada vez mais contato com a área de gestão e todos estes termos no seu dia a dia.
Sakou os paranauê?
Basicamente o que temos é um mercado de produtos digitais em constante expansão desde que o iphone foi lançado! Ao longo dos anos, o que antes era novidade se tornou especialização, e o que era especialização agora é 'arroz com feijão', e 2021 será o ano da mistura. (se você não sabe o que é mistura, volte duas casas...rs).
Buscar novos conhecimentos que possam incrementar a sua área de trabalho é o que já está rolando, e acredito que vai se intensificar em 2021. Eu já pensava sobre isso ainda em 2019, e esse pensamento me levou a conhecer os termos Multipotenciais e Polímatas.
Não cabe aqui me estender muito sobre estes dois tópicos, mas o que posso dizer sobre eles é que, tanto um quanto o outro, elaboram teorias do porquê uma pessoa busca mais conhecimento quando atinge um plateau sobre o conhecimento atual… e mais do que isso, os estudos sobre Polímatas e Multipotenciais também elaboram o porquê de algumas pessoas buscarem novos conhecimentos em áreas que não tem muito a ver como o que ela já sabe.
Um grande exemplo é o caso do Polímata Leonardo Da Vinci, que além de um exímio desenhista, pintor e escultor, também era fera em matemática, arquitetura e engenharia.
Caso você se interesse mais por estes assuntos, sobre Multipotenciais eu recomendo este Ted Talk. E sobre Polímatas recomendo este artigo da Tech Crunch, que fala coisas muito interessantes sobre a demanda e necessidade destas figuras no mercado de tecnologia.
A profissão de Design por si só já é bastante permissiva, heterogênea e multidisciplinar. Penso que designers já são Multipotenciais de fábrica, mas que ao longo dos últimos anos as demandas de mercado de produtos digitais exigiram que nos especializássemos em uma área específica, seja UX, UI ou Product Design.
Entretanto, passada a grande necessidade de especialistas, agora estamos entrando em um novo momento onde podemos voltar à nossa essência de exploradores, e buscar conhecimento em áreas diversas, seja como soft skill ou como uma nova hard fucking super skill.
Mas por favor não me entenda mal. Eu não estou dizendo que não precisamos de especialistas. Muito pelo contrário, precisamos sim. O que estou dizendo é que vejo o design e designers indo além, como qualquer um que atinge seu plateau e agora quer mais.
Independente de você querer ou não aprender novas skills, uma coisa que não dá pra negar é que o design é sim multidisciplinar, e que quanto mais você conhece sobre outras áreas, mais você melhora a sua percepção de mundo e consequentemente a qualidade do seu trabalho como designer.
O próximo ano será um ano singular, pós pandemia e quarentena, e mesmo cheios de incertezas sobre muitas coisas eu penso que uma delas está bastante evidente: A maneira como fazemos design está mudando e não se resume mais a atividade de desenhar, como já foi um dia em um passado próximo.
E você, que trem novo pretende aprender em 2021 que tá por trás de qual coisa?
Porquê alguns não têm uma vocação Específica
Por Emillie Wapnick - TedTalk Bend, Abril 2015
Specialization, Polymaths And The Pareto Principle In A Convergence Economy
Por Jake Chapman - Tech Crunch, Outrubro 2015