Diretor de Design na Creditas, com treze anos de experiência trabalhando com Design, pai do Theo e da Clara, tenho 32 anos de idade e nasci em Pirituba, um bairro da zona oeste de São Paulo. Passei por dois grandes unicórnios brasileiros anteriormente, o iFood e a 99, durante quatro anos liderei o time de design do Walmart.com para Brasil e América Latina e passei por outros lugares muito legais como a Oppa, iG, Buscapé, Digitas e AgênciaClick.
Quando recebi o convite do Vitor para participar desse projeto, internamente comecei um processo de reflexão profunda sobre a minha trajetória no design de 2007 até aqui, e acho importante começar contextualizando logo de cara.
Aos 18 anos estava fazendo a minha primeira faculdade de design digital, um curso totalmente novo em uma universidade percebida como "popular" em São Paulo, a UNIP - Universidade Paulista.
Hoje existe um termo muito conhecido no mercado, o "hands on", na prática refere-se a profissionais que põem a mão na massa com o time, descem juntos no detalhe e aprofundam em determinadas atividades, projetos ou assuntos.
No início da carreira eu nem sabia que essa forma de liderar tinha um nome, e no passar do tempo, fui percebendo que isso me movia e era algo que eu sempre deveria fazer, desafiando a sempre encontrar o equilíbrio entre descer demais no detalhe para construir com o time e também saber o momento de afastar para dar espaço e autonomia para eles, e conectar o trabalho à estratégia como um todo.
Da arquitetura de informação, depois trabalhando em portais de conteúdo, eu cheguei a conclusão de que precisaria aprender mais sobre direção de arte ou visual design como chamamos hoje, e que assim poderia começar a testar o que eu estava construindo, utilizando processos simples de validação para pivotar ou perseverar em determinado caminho.
Em 2013 comecei a me aprofundar em prototipação, em seguida, mais sobre dados, e em 2014 passei a liderar times de design, e sigo até hoje, transitando em grandes empresas e startups.
É mega importante saber trazer equilíbrio para suas decisões de trabalho, como tudo na vida. Se você está 100% no tático, começa a fazer trabalhos excessivamente repetitivos e consequentemente passa a ser cobrado sobre a falta de pensamento e conexão estratégica.
O mesmo acontece quando se descola totalmente do dia a dia e dedica-se apenas a trabalhar sobre visões que se distanciam completamente da realidade. É fundamental saber ler os contextos e entender quais são os momentos de dosar seu design para que ele tenha mais impacto no negócio, no time e assim fazendo seus objetivos serem mais assertivos e alcançáveis.
Na minha experiência, tive a oportunidade de aprender e observar que muitas vezes nos deparamos em ambientes com situações nas quais há uma alta dosagem de conflitos, ou sentimos que o design não é maduro suficiente para determinados contextos e logo pensamos que aquele lugar não é onde deveríamos estar, por isso, ficam aqui algumas reflexões pessoais que gostaria de compartilhar :
Ponto chave para começo de qualquer conversa. É importante fazer um questionamento sobre que tipo de ambiente estamos de fato inseridos e se ele é capaz de poder nos proporcionar diversão. É verdade. Você designer talvez não tenha feito essa reflexão ainda, mas pode ter certeza que trabalha em uma profissão extremamente divertida e muito diferente de boa parte das outras que existem aí pelo mundo.
São ambientes geralmente muito diferentes e é necessário analisar o modelo que nos faz mais feliz, traz mais realizações e nos completa como seres humanos.
Não tem certo nem errado, mas saber em qual lugar você está inserido faz com que as suas expectativas estejam muito mais alinhadas com o tipo de empresa que você está trabalhando ou buscando.
Há 7 anos atrás as venture capitals e o dinheiro chegaram no Brasil, com isso temos diversas startups no mercado em estágios muito diferentes, que acabam impactando na sua relação com o produto, empresa e design delas.
Eu particularmente falando, cheguei a conclusão de que me conecto muito mais com ambientes de construção, onde a busca por soluções criativas e a tal "folha em branco" me deixam mais empolgado do que "escovar" o pixel, refinar por meses determinado produto ou solução, para aí sim saber se aquilo está maduro ou não para ser utilizado por milhões de pessoas, tem seus desafios, mas para mim não engajam tanto.
Vejo o Brasil, mais especificamente no mercado de startups, em três grandes níveis de maturidade:
As startups que estão começando, mais incipientes, levantando suas primeiras rodadas, algo bem "early stage" como se diz no universo de tecnologia, onde o risco na maioria das vezes, acaba sendo maior. O oposto disso, são as maiores startups do país, com o alto nível de maturidade de produto, que muitas vezes são empresas que ajudam na movimentação da economia nacional.
E tem o que eu adoro e particularmente apelido de "meiuca", onde existem muitas startups brasileiras hoje, que não estão nem tão no começo e nem tão "maduronas", mas tem um espaço criativo enorme para pôr a mão na massa, construir do zero, aprender com os seus usuários de verdade e fazer um processo de interação contínua na melhoria do produto.
Nesses três pontos, a grande provocação que eu trago aqui é que devemos esquecer as nomenclaturas, os cargos, as caixinhas que são impostas e tentam nos colocar e limitar em determinados lugares, mas sempre lembrarmos de que somos, sobretudo, designers em sua mais profunda essência, que devemos resolver problemas, encontrar oportunidades de construir um mundo melhor para que as pessoas possam viver e buscar fazer e desenvolver esse significado de forma constante.
Poste no seu dribbble, atualize seu portfólio, busque realizar trabalhos nos quais você se orgulhe de fazer, e em 2021 lembre-se: você será sempre designer e isso já faz valer a pena.