Jornalista por formação, tem mais de 18 anos de experiência em produtos digitais. Mãe do Rafael e da Gabriela é apaixonada pelo que faz e acredita muito no trabalho em equipe. Atualmente trabalha na C&A sendo responsável pela experiência e pelos produtos digitais da empresa.
Estamos vivendo num mundo complexo e temos criado imagens superficiais de super heróis e heroínas. Durante a pandemia isso só se intensificou. Para sermos ótimas profissionais, líderes, mães, pais, temos que dar conta de acordar cedo, colocar crianças nas aulas online, preparar alimentação saudável, fazer atividade física, responder inúmeros e-mails, ter muitos insights a cada reunião, fazer ppts, planilhas, tirar fotos com a equipe a cada nova dinâmica de co-criação.
No mundo virtual isso funciona muito bem. No mundo real, o que tenho visto e dividido com muitos colegas são líderes cada vez mais sem tempo para fazer o que mais precisam: cuidar das pessoas que estão sendo lideradas por eles e, que num futuro próximo, serão líderes também. Uma triste realidade, ainda mais em um momento tão incerto onde as pessoas precisam ainda mais de empatia, atenção e cuidado.
Eu não tenho dúvidas de que sou fruto da influência de muitas pessoas que passaram pela minha vida, sendo elas líderes ou não. Algumas inclusive bem antes de eu me tornar uma profissional. Meus professores da escola com certeza foram grandes líderes que fizeram e continuam fazendo muita diferença na minha vida. Enquanto escrevo esse texto, recebo a notícia que um deles faleceu de Covid-19. Por uma rede social vejo que não foi só na minha vida que ele fez a diferença e percebo também que ele continuará vivo na vida de muitos alunos que, assim como eu, foram liderados por ele.
Ao olhar os comentários, me lembro de uma frase dita por Michelle Obama: “O sucesso não tem a ver com quanto você ganha, mas com a diferença que você faz na vida de outras pessoas”.
As aulas que ele e alguns outros professores me deram quando eu ainda era uma menina foram muito além da matemática, da geografia, do português, da física ou de qualquer matéria do currículo escolar. Foram lições que me ajudaram a me tornar parte de quem sou hoje. Que sorte a minha ter tido não apenas professores, mas pessoas que amavam o que faziam.
E amar o que você se propõe a fazer faz toda a diferença, na nossa vida e nas vidas dos nossos liderados. Pensando por essa perspectiva, tive muita sorte na vida e encontrei pelo caminho vários profissionais que marcaram toda a minha vida profissional. Obviamente muito deles não são meus líderes há muitos anos, mas são pessoas que levei para a vida e que até hoje continuam fazendo diferença nela, mesmo que à distância. Uma delas (a primeira inclusive – quando ainda era estagiária) esteve em minha casa conhecendo minha filha menor quando ela nasceu muitos anos depois, aproveitando uma viagem à trabalho a Sampa. Outros eu ligo até hoje quando preciso decidir sobre a alguma coisa e quero ouvir outras opiniões.
E como isso que faz diferença. Antes de sermos líderes, somos seres humanos. Faz tempo que aquela coisa de “aqui dentro você é um funcionário, um colaborador. Sua vida pessoal deixa lá fora”, não faz o menor sentido.
Somos seres complexos e não conseguimos separar as coisas. Por mais que você possa ser bem introspectivo e não gostar de compartilhar sua vida, não há como chegar no trabalho e imediatamente esquecer uma briga que teve com seus pais, o problema de saúde de um filho ou qualquer outra preocupação pessoal. Certa vez ouvi em um treinamento que um bom líder precisa entender quando não está bem e, nesses dias, a melhor coisa é ficar um pouco longe para evitar estragos maiores.
Ao assumir papel de líder de pessoas, é sua responsabilidade cuidar delas, independente se elas são da sua equipe ou não, hierarquicamente. Se você é líder, precisa exercer a liderança. E essa responsabilidade vai muito além de cobrar que elas cumpram suas tarefas corporativas.
Como líderes, precisamos investir tempo para criarmos relacionamento com cada uma delas, de forma individual e, ao mesmo tempo, em grupo.
O líder precisa ser a ponte entre seus liderados e as demais pessoas da empresa. Que difícil conciliar tantas coisas, ainda mais num ano tão complicado. Muitas vezes, de forma não intencional, cumprimos protocolos corporativos com as equipes, fazemos reunião de 1to1, de feedbacks, de equipe, mas não paramos para investir no relacionamento com nossos liderados.
Relacionamento é via de mão dupla. Relacionamento a gente constrói todos os dias e esse processo não é empírico. Ele leva tempo, precisa ter muita conversa, precisa saber ouvir, precisa parar para ter o momento de escuta para o que é dito e, muitas vezes, para o que não é dito, precisa ser cultivado todos os dias, precisa gerar confiança mútua. Para termos um relacionamento saudável precisamos ter maturidade.
Líderes maduros criam equipes que vão trabalhar pelo bem de todos e não para se promoverem apenas com um indivíduo. O relacionamento nos desafia a maturidade. Pessoas maduras conseguem lidar melhor com desafios, com frustações, com pressões e com mudanças. Esse talvez seja a maior riqueza que um bom líder pode oferecer para sua empresa: pessoas que entendem que juntos podem ir muito mais além, que conseguem exercer sua influência, mas ao mesmo tempo conseguem lidar com o outro, com o diferente, com o desconhecido, com uma outra visão.
Ainda vejo líderes e chefes que têm receio que pessoas do seu time “apareçam” mais do que ele. Um bom líder deveria ser reconhecido pelo valor, pela autonomia e pelo engajamento de sua equipe. Dados de uma pesquisa de opinião realizada pela empresa americana Gallup confirmam que 70% do nível de engajamento dos funcionários de uma empresa é atribuído à qualidade do líder.
Me lembro muito bem do dia que ganhei o meu primeiro cargo de gerente. Eu já era coordenadora de pessoas há alguns anos, mas não tinha ainda a nomenclatura oficial de um líder na empresa (mais conhecido como gerente). Com a chegada do cargo, a única coisa que mudou foi que o time criou um novo grupo no WhatsApp e me deixaram de fora dele.
Sabe o que isso significa na prática? Que a gente ainda acha que líderes e chefes são pessoas que estão em outro patamar, que não podemos falar tudo o que pensamos para eles. Na prática, isso cria um relacionamento bem estranho, onde não temos liberdade de nos expressarmos e sermos quem realmente somos.
Como líderes, precisamos sair do pedestal de “super heróis ou heroínas” e precisamos ser gente. Precisamos ter relacionamento com nossos liderados e boa parte do nosso investimento de tempo precisa ser no maior patrimônio que uma empresa tem: as pessoas. É nossa responsabilidade cuidar da nova geração de líderes. Uma missão difícil, complicada, complexa. Uma jornada longa onde todos os dias aprendemos mais do que ensinamos.
Para quem ama pessoas, um caminho cheio de aprendizados, de erros, de acertos, mas com certeza um caminho sem volta. Pra mim, que ainda tenho muito o que aprender para me tornar uma líder como alguns que já tive na vida, não há mérito e reconhecimento melhor do que saber que, por algum momento, você fez diferença na vida de uma outra pessoa.