Designer pela vida, designer gráfica de formação e UX de profissão. Já me envolvi em diversos projetos sempre procurando onde posso agregar ainda mais valor. Sempre no meio de livros, criei o projeto LerUX em 2021 no instagram, onde leio livros e artigos ligados a área para agregar mais para nossa comunidade. Também faço parte do Ladies that UX Campinas, dando voz para nossas profissionais e ajudando-as a entrar no mercado de UX.
Eu vou te contar como.
Webdesigner. Arquiteto da informação. Designer de interação.UX Designer. UI Designer. Visual Designer. UX Writer. UX Researcher. Service Designer. Product Designer. UI/UX Designer.
E lá se vai todo o espectro dentro do design. Hoje mais do que nunca vemos cargos e mais cargos que parecem mudar e evoluir a cada ano dentro do que chamamos de UX design.
Durante muito tempo eu olhava para os livros, palestras e cursos de UX com admiração e um pouco de inveja também, pois nunca conseguia aplicar tudo que era dito. Para mim era algo de outro planeta, coisa de pessoas fantásticas, não para mim. Eu era uma designer que fazia interfaces, não uma UX designer.
Porém passar por todas as empresas, freelas e eventos que passei me ajudaram a entender o que significa ser uma designer. O que significa construir um produto. Então vem comigo que vou te contar como foi que me encontrei nessa jornada.
Comecei onde, acredito, a maioria dos meus contemporâneos também começou…em fóruns e blogs na internet. Naquela época tudo era mato, participei de concursos para a melhor capa de fórum, fiz muitos templates para blogger e desse modo fui descobrindo o Design gráfico. Basicamente eu conhecia um pouco de HTML e CSS e sabia mexer no Photoshop. Pronto já dava para brincar de internet.
Dai na hora de escolher uma profissão foi fácil, só podia ser design. Confesso que entrei no ramo querendo aprender a desenhar. Como eu era jovem. Se tem algo que você não aprende na faculdade de design é como desenhar. Porém acabei aprendendo milhares de outras coisas bem interessantes como pensar e fazer um projeto, por exemplo.
Dai em diante era um passo para entrar no mundo do design de interação. Como uma grande geek/nerd que sou foi um pulo até me envolver com o pessoal da computação e dai foi só ladeira abaixo, bora começar a usar meus conhecimentos sobre projetos nesses tals de softwares.
Durante um bom tempo, confesso, fiquei brincando que sabia o que estava fazendo, fiz alguns projetos na faculdade e muitos freelas, porém chega uma hora que a gente tem que encarar o mercado de trabalho e, o que eu achei que ia ser uma chatísse, me deu ótimas lições e oportunidades.
Após a faculdade eu sai atirando para todos os lados até que cai em uma consultoria. Basicamente eles faziam softwares sob demanda, era a minha chance de realmente começar a fazer algo.
Cai em um projeto que sempre estará em meu coração. Um leitor de livros. Nessa época o Kindle estava nascendo e as tablets ainda vendiam muito. A ideia do produto era muito boa, criar um app para Ipad onde o usuário poderia ler seus livros em comunidade acrescentando conteúdo como fotos artigos ou comentários no meio da leitura.
O problema era: fui designer solo durante muito tempo…tinha acabado de sair da faculdade, eu não tinha ideia do que estava fazendo. Eu fazia pesquisa com pessoas que eu conhecia, não com usuários reais. Mandava questionários para grupos de facebook. Não metrificava nada. Uma piada. Eu não estava fazendo design, eu só fazia tela mesmo.
Quando me perguntavam o que eu fazia eu dizia: Sou designer de interfaces, porque de experiência do usuário eu não era. Cansada de trabalhar sozinha, ver um projeto afundar por N fatores que não cabem agora, e não ter nada, nem ninguém para me apoiar ou espelhar, mudei para outra consultoria. — “Dessa vez será diferente”, pensei eu.
E foi. Foi muito diferente, mas não positivamente falando.
Agora eu, designer de interação e interfaces, além de estar sozinha, trabalhava em 3, 4, chegaram a ser 7 projetos diferentes ao mesmo tempo. Uma super linha de produção de telas, uma mais linda que a outra, se me perguntar se elas funcionavam, não vou saber te dizer pois testei muito pouco e 98% dos produtos sequer atingiram seu usuário final. Esse era um mal, a gente fazia mil projetos, mas quantos deles estavam realmente na mão do usuário? Nenhum.
Porém pude trabalhar com muitas tecnologias diferentes, desde aplicativos, sites, sistemas integrados, máquinas de cartão, balanças inteligentes, agro negócio, vendas, linha de produção, warehouses e até mesmo robos, porém como era tudo muito rápido e corrido, eu não parecia estar fazendo design. Parecia estar em uma corrida atrás do próprio rabo.
Por 2 anos eu fiquei me indagando, será que é isso mesmo? Será que todo aquele papo de usabilidade, pesquisa, métricas, será que isso só acontece lá na gringa? Será que um dia terei um pequeno vislumbre do que é um real UX designer?
Spoiler: iam ser mais 3 anos de busca para eu encontrar um specimem real.
Desanimada com a vida, o universo, o design e tudo mais. Mudei de emprego novamente. Dessa vez para voltar a trabalhar com um projeto só, no começo foi muito bom, consegui colocar algumas coisas em prática, fazer um teste aqui e outro acolá. Aprendi muito sobre styleguides e design systems, aprendi muito a olhar para o negócio, usuário e desenvolvimento e considerar esses 3 pilares na hora de construir, mas faltava algo.
Aqui eu continuava a me identificar como designer de interação e interfaces, afinal UX designer são aquelas pessoas fodas, que trabalham no Nubank ou na gringa. Eu pensava: eu sei fazer tela e quem sabe alguns fluxogramas. UX design nunca, afinal ainda não conseguia aplicar 100% o que eu aprendia nos livros e cursos, mas a designer dentro de mim não dormia, continuava a me dizer que havia algo mais, lá no fundo.
Depois de mais 2 anos em um projeto que, mais uma vez não deslanchou, no qual eu sofri alguns abusos morais, e que me fez realmente querer abandonar a área para vender miçanga (Alô pessoal de humanas!). A UX dentro de mim falou “Tenta mais uma vez, prometo que vai ser a última.”
Ok, querida, vamos lá.
Comecei a mandar meu CV para todo lado. Cheguei a recusar uma oportunidade porque sabia que ia ser mais do mesmo. Até que cheguei a minha última empresa, outra consultoria.
Chegando lá, eu fui colocada em um projeto com mais 4 designers de todos os níveis, um melhor do que o outro. Eles estavam no meio de um furação, a empresa tinha sido comprada por um grupo gigantesco e eles tinham que mudar todo o branding e visual do App em um mês.
Eu pensei, ai sim, isso eu sei fazer.
Porém o que eu não esperava é que o líder do projeto ia me perguntar “E ai você quer ficar com a parte visual ou pegar a parte de UX?” Eu buguei, senti um medo gigante, afinal eu tinha certa experiência, mas nunca tinha trabalhado com UX na minha vida. Foi então que respondi: “ UX, quero fazer esse negócio ai”.
Tudo bem então aqui está uma tarefa para você pode começar.
Branco, era tudo que eu via. O que faço agora? Por onde começar? O que é design? Ai a designer dentro de mim falou: “Faz o que você sempre fez.” E foi o que eu fiz: sai organizando arquivos, conversando com stakeholders, entendendo o negócio a fundo, fazendo fluxogramas e wireframes e compilando tudo.
Para minha surpresa todo mundo amou o material…”Parabéns essa pesquisa ta muito foda!” Quê? Mas eu sempre fiz isso, isso é UX?
Sim, isso era UX.
Por um ano e meio eu fiquei nesse projeto, amadurecendo, tendo vários mentores, exemplos para o meu trabalho e carreira. Pessoas para trocar ideias, para me espelhar e também para me ajudar a entender que sim, uma pesquisa rápida na internet, um benchmarking, uma conversa com especialistas, falar com pessoas no facebook, também podiam virar ótimos materiais de design. Que é mais importante eu validar uma tela com um usuário próximo do ideal do que com nenhum.
Que carga foi tirada da minha pessoa e eu queria mais. Comecei a me interessar mais por pesquisa e dados e fui aplicando todas as técnicas que eu conhecia e aprendia no meu dia-a-dia. Por muito tempo eu pensei que queria me tornar uma UX researcher e viver fazendo pesquisa, mas não…no fim do dia meu negócio é constrir produtos, é vê-los sendo lançados e usados, é iterar e entender o que funciona melhor aonde. Então aquele trabalho de pesquisa ficou muito pequeno pra mim, pela primeira vez em 8 anos de carreira eu queria mais.
Com muito pesar no coração abandonei minha antiga empresa e fui trabalhar com produto. Como faz muito pouco tempo ainda não vou formar uma opinião, porém só posso dizer que a responsabilidade parece muito maior, e finalmente sinto que não estou brincando de casinha, agora o negocio é real e pode impactar diretamente o meu cliente. O quão maravilhoso é isso?
Depois de 8 anos eu consigo me identificar como UX designer, ou como chamam os mais novos hoje, Product designer. Faço um pouco de pesquisa aqui, olho métricas, ajudo a encontrar oportunidades e definir requisitos e também faço interfaces. Finalmente olho para trás e vejo todo o meu histórico de trabalhos loucos e oportunidades tortas como um fluxo natural para construir um bom generalista. Eu sei que sei de tudo um pouco, eu já trabalhei com diversos produtos diferentes e sei o que funciona e o que não funciona.
Mas o principal é: não tenho mais tanto medo assim do design. Hoje, vejo tanta gente que, como eu, luta dentro de empresas tortas e fica se martirizando pois não consegue aplicar tudo o que manda o manual.
Não se preocupem o manual é um guia não uma lista de regras. Entenda os limites da onde você trabalha.
Tente ultrapassá-los quando tiver oportunidade, mas nunca se culpe se não conseguir, as vezes as empresas não estão preparadas para ouvir a palavra do design, mas tendo você naquele produto já vai melhorar muito a vida do seu usuário. Pode ter certeza.
Tente aprender tudo que você puder com as pessoas ao seu redor. ARRUME UM MENTOR/UMA MENTORA. E nunca deixe que ninguém te diga que você não é algo, nem mesmo você.