Olá. Sou Beto Lima, designer de produto, atualmente trabalhando no Luizalabs, área de tecnologia e design do Magazine Luiza. Pai da Gabriela e da Alice. Formado em design digital, são mais de 20 anos trabalhando em agências de publicidade, startup e grandes empresas como iFood, 99, Banco Original e Youse.
Os times de design estão crescendo cada vez mais. É bem comum encontrar times com cerca de 20, 30 e dependendo do tamanho da empresa com até 100 designers. Esses times na maioria das vezes atuam em diferentes áreas do design: product designers, visual designers, ux writers, researchers, por exemplo.
Isso mostra que, cada vez mais, as empresas estão reconhecendo o real valor do design e da sua importância dentro do processo de desenvolvimento do produto fazendo com que se invista mais e mais.
Segundo pesquisas realizadas em 2017 a proporção de designers passou de 1 designer para 25 devs em 2012, de 1 designer para 8 devs em 2018 na IBM por exemplo. Esse movimento foi repetido por outras gigantes da tecnologia.
Com todo esse crescimento, um ponto muito importante a se analisar é a conexão, comunicação e alinhamento não só dentro da equipe de design (chapter), mas com outras áreas também.
Gosto muito de futebol e, muitas vezes, as analogias entre design e futebol são inevitáveis.
Vamos imaginar a seguinte situação: será que um time com 11 Cristiano Ronaldos daria certo? Quem teria a função defensiva? Todo mundo se mandaria pro ataque? Mesmo se tratando de um jogador fantástico, será que a estratégia funcionaria?
Esse exemplo ilustra o quanto é importante ter dentro de um time pessoas com diversas habilidades e perfis. No caso do futebol você precisa ter cada jogador na sua posição e cumprindo uma função tática específica, mesmo sabendo da importância das características individuais de cada um e suas habilidades. Um chuta melhor com a perna esquerda, outro cabeceira melhor, cobrança de faltas e até a liderança dentro de campo.
Nos times de design isso não é diferente. É importante ter dentro do time tanto designers jovens com “sangue no olho” e uma vontade muito grande de fazer acontecer quanto a experiência de quem já está há bastante tempo no mercado.
Muitas vezes essa mistura se torna bem difícil de ser encontrada e as contratações se concentram sempre no mesmo tipo de perfil, deixando de lado os diferentes níveis de designer (Júnior, Pleno, Sênior e Especialista), gênero, raça, PCDs, classe social e localidade, por exemplo.Times de futebol só com jogadores em fim de carreira com certeza não vão a lugar algum, assim como times profissionais formados só por jovens “da base”.
Talento individual é super importante. Pessoas talentosas fazem com que a “barra suba”, e seja um ponto de referência para o time. Mesmo assim, um camisa 10 não entra em campo sozinho.
Quanto mais diverso, inter e multidisciplinar for um time, maiores as chances de se criar um produto diferenciado. A diversidade traz diferentes pontos de vista, que estão ligados à experiência de vida de cada um.
Mas mesmo com times diversos, os processos de cerimônias devem ser aplicados.
A troca de conhecimento deve ser constante.
Não podemos deixar que o dia a dia do produto nos afogue, fazendo com que seja quase impossível olhar para o lado. Design Critiques, Reviews, Design day, PKs, Syncs, Retros, todo e qualquer momento de reunião é muito importante para integrar, ouvir diferentes pontos de vista, medir a saúde do time e às vezes aquela lavação de roupa suja vai muito bem também. Essas dinâmicas ajudam no entrosamento e aos poucos vão criando uma sensação de tocar a bola pro companheiro ou companheira sem nem precisar olhar.
O espírito colaborativo muitas vezes esbarra no ego e na dificuldade de desapegar de algumas convicções em prol do coletivo. Por isso que às vezes é tão difícil manter processos de troca dentro dos times. E isso não só dentro dos times de design, mas também com produto e tecnologia.
Em algumas situações é importante pensar no bem maior do produto, de maneira mais ampla. Isso acontece principalmente quando o assunto é consistência ou manter a mesma linguagem em produtos com participação de diferentes designers no mesmo produto.
Pegando a temática do futebol, é muito importante você jogar bem no seu clube (sua squad), mas em determinado momento você tem que jogar pela seleção (a empresa) e abrir mão de algumas “manias” em prol de algo maior, pensando no produto e sua conexão como um todo para desenvolver uma experiência única e consistente.
Nós, designers, temos que ser o ponto de partida dessas questões ligadas à diversidade e processos. Questionar sobre os processos de contratação, o perfil, contribuir em todas as etapas para que se desenvolva uma cultura cada vez mais diversa e colaborativa.
Devemos sempre analisar os processos e também ter uma visão bem ampla de todo time, considerando os diferentes perfis e os pontos que mencionei anteriormente. Devemos sempre questionar se existe uma maneira melhor e mais eficaz de fazer. Propor processos e “rituais” de colaboração não só entre designers, mas em toda a empresa.
Apesar de ser do basquete, Michael Jordan, três vezes campeão com o Chicago Bulls, tem um frase muito emblemática em que fala que "O talento vence jogos, mas só com o trabalho em equipe você ganha campeonatos”. Você pode fazer um trabalho brilhante ali no seu mundo com os fones de ouvido ligados, mas se não compartilhar, buscar outras opiniões e entender o que está acontecendo à sua volta, cedo ou tarde, você corre o risco de não se desenvolver profissionalmente e de ter um produto totalmente enviesado.
Acredito muito na importância da colaboração e o alinhamento entre times e que esses fatores são fundamentais para formar times e empresas campeãs.