Sou especialista em Experiência do Usuário e Design de Interfaces. Há mais de 10 anos trabalho com foco em criar produtos digitais centrados no usuário, envolvendo tecnologia, negócio e tendências. Atualmente tenho me dedicado à área de UX Research.
Quando comecei a trabalhar com 'webdesign' o tema 'experiência do usuário' não era tão conhecido ou discutido assim. Por isso algumas dúvidas e incertezas existiam na minha cabeça. Hoje existe muito conteúdo de qualidade produzido por gente muito inspiradora pra quem decide trilhar este caminho, e consumindo a visão de outros designers, percebi que nós também podemos ser usuários da própria disciplina em outros contextos.
O que tem sido mais excepcional nesta jornada, é que em UX não existe um só caminho, com regras claras e engessadas, bem definidas para trabalhar na área. Ela é acolhedora e cada pessoa têm uma bagagem única, que vai somando e construindo a cultura própria de cada time.
Mais do que ter empatia com nossos usuários, a gente se propõe a destruir as nossas pré-concepções, a investigar hipóteses, observar e escutar e com isso tudo, aprender. E ainda, construir algo, medir, aceitar nossos erros e aprimorar as soluções.
Este aprendizado é muito extraordinário. Esta multidisciplinaridade fomenta essa sede de conhecimento e apesar do mercado buscar cada vez mais por um perfil mais generalista, temos esses perfis singulares que acabam por se complementar.
Eu me considero sortuda por ter encontrado pessoas incríveis, grandes profissionais que me me fizeram refletir como nosso trabalho tem um grande impacto na vida das pessoas, mas que também me fizeram enxergar que é também um grande privilégio trabalhar com design do jeito que acreditamos (coisa que nem sempre é regra no mercado).
Conseguir influenciar as decisões de negócio, gerando um valor real pro usuário, eliminar barreiras dentro dos nossos times, e aqui eu não falo de impedimentos, mas de tentar fazer com que nossos produtos sejam mais inclusivos, mais próximos de uma realidade de uma sociedade que a gente acredita é uma tarefa diária que o design e o designer perseguem no dia a dia.
Cada um de nós, quando está imerso no seu dia a dia de backlogs, histórias, sprints e cerimônias podemos perder a visão do todo. As vezes fica difícil ter tempo para acompanhar tudo ou ainda ter visibilidade de tudo o que acontece. Às vezes, por mais que a gente gostaria, os processos não são tão fáceis e o design não é assim tão escalável.
Por mais que nós nos espelhamos em times consolidados com processos claros, criar times de design fortes unidos culturalmente e otimizados, muitas vezes se torna um trabalho em andamento. E tá tudo bem.
Acalmar esses anseios dentro de nós designers é uma tarefa importante, pois sempre vão existir pontos a serem melhorados e acho que a única certeza é que a impermanência. Tudo está ou sempre estará em constante evolução.
Por isso, a gente não deveria esquecer que da mesma forma que usamos grande parte do nosso tempo para entender pessoas, nossos usuários, deveríamos olhar com o mesmo cuidado e empatia para as pessoas que estão ao nosso lado também. Para desenhar relações mais humanas com a pessoa e o profissional dentro do time que atuamos.
A liderança de um time de design tem seu papel, mas assim como o trabalho de design é colaborativo e coletivo, também somos responsáveis pela sinergia dentro do time de design e também com outras áreas: negócios, tecnologia, dados, marketing e tantas outras especialidades.
Considerando o cenário tumultuado do dia a dia. Pensar em cocriar, iterar, melhorar nossos processos, valorizar o aprendizado constante entre as pessoas do time, estimular a troca de conhecimento e principalmente de ouvir e entender o outro pode parecer desgastante. Por isso destaco: projetar as relações dentro do trabalho também deve fazer parte das habilidades de um designer, afinal somos uma das áreas que mais estuda e aplica a empatia.
É algo que fazemos todos os dias com nossos usuários: entender o usuário, o contexto, o problema, o todo. Por que só usamos nossa visão holística e preocupação com as pessoas apenas focando nos usuários, já que o time também é formado por pessoas?
Em muitos casos estamos inseridos em empresas com seu próprio processo cultural de feedback e avaliação. Dentro da cultura ágil, as squads tem suas próprias cerimônias, onde este time discute o que pode ser melhorado a cada sprint, mas como amadurecemos isso dentro do time de design?
Como facilitadores, não conseguiríamos entender o que pode ser melhorado no cotidiano de cada um, mais ativamente e profundamente? Acredito que sim!
Além das reuniões com seus gestores diretos e líderes, o feedback é estimulado entre seus colegas, ou o isolamento dos designers em diferentes squads não possibilita a criação de um espaço seguro para essa troca sincera?
Acredito que o designer poderia criar essa confiança dentro do time, trabalhar para alimentar as conexões internas, facilitar o entendimento e os processos, fomentar a troca de experiências boas e ruins e uma comunicação transparente são estímulos para o time se tornar mais colaborativo.
Deveríamos olhar para os nossos times com o mesmo olhar investigativo que usamos para cada usuário. Escutar mais para colaborar mais. Divergir (e dar feedbacks) para colaborar melhor é parte da impermanência diária em nossas vidas como pessoas e profissionais.