Ux Designer com 10 anos trabalhando em marketing e design digital, criando produtos e experiências para indústrias automotivas, têxteis e de software no Brasil, Egito e Portugal. Tenho participado em parceria com outros designers ux na curadoria e compartilhamento de conhecimento em design com a comunidade.
Os designers estão cada vez mais espalhados pelo globo, e as percepções de design são bem diferentes em cada lugar. Em uma pesquisa que fiz sobre Carreira internacioal em UX, a maior parte dos Ux designers no Brasil querem ganhar experiência para conseguir sair do país.
Um dos principais destinos é Portugal e tenho conversado com Ux designers brasileiros por aqui pra entender qual é o sentimento sobre o mercado de Ux Português.
Ao mudar para um novo país você pode se deparar com um design que não conversa com você. O design local fala com as pessoas locais. A linguagem, as formas, o conteúdo. E nós designers devemos produzir soluções pra pessoas daquele país ou de outros países. O seu design deve conversar com elas. E isso pode ser um desafio.
O Brasil tem muita diversidade cultural, o que nos permite experimentar e aprender sobre essas mudanças em um contexto interiorizado através da convivência e observação dos comportamentos dos utilizadores num ecossistema em que estamos “ligados” 24/7 a qualquer ponto do planeta. Isso é uma vantagem que é muito valorizada aqui.
Tenho visto um grande crescimento na Área de UX Design em Portugal com relação á quando cheguei aqui e buscado entender o cenário através do contato com diversos brasileiros que estão trabalhado por essas terras lusitanas. A sensação é que o mercado tem sido impulsionado de maneira frenética. Os cargos ganham novos nomes e importa muito conteúdo de fora.
Me surprendi ao perceber que apesar de ser um país de língua portuguesa, a maior parte do conteúdo consumido e produzido é em inglês. As empresas aqui por conta da diversidade cultural e clientes internacionais, operam seus times em inglês.
As pessoas na qual os UX Designers daqui se inspiram, se comunicam e produzem conteúdo em inglês e tem como base o conteúdo produzido na Inglaterra. É um pouco difícil pra mim imaginar um evento de UX Design todos em inglês no Brasil. Aqui o inglês é o padrão.
As vagas de UX Design aqui são preenchidas em suas maiorias através de consultorias especializadas em experiência do usuário. Elas contratam UX e UI Designers pra seus times ou diretamente para projetos de clientes, onde o designer se junta á times de grandes empresas de Portugal. Muitos recrutadores e consultorias estão dispostos a trazer brasileiro para trabalhar aqui.
Se no Brasil a cada 10 posts no seu feed do Instagram 9 são de UX designers que criam conteúdos fofinhos, aqui isso não é tão comum assim. Os artigos no Medium são mais populares e comunidades fechadas de especialistas mais frequentes.
"Aqui os designers não encontram uma comunidade tão enfática como no Brasil" diz um dos designers brasileiros na Farfetch. — "Lá a cultura de troca é muito enraizada."
Os eventos estão começando a deslanchar online. No final do ano acompanhei novos eventos serem criados e comunidades sendo formadas. Antes da pandemia havia uma presença mais poderosa, com várias palestras e eventos que reunia um grande público em Lisboa e Porto. A grande movimentação normalmente gira em torno da IxDA e EDIT com pessoas altamente especializadas. Um blog muito legal pra acompanhar é o uiux.pt com diversas entrevistas com designers portugueses e artigos sobre área.
No começo do ano fiz um post no Linkedin sobre as pessoas do UX para acompanhar em Portugal que me rendeu bons nomes.
Eu vi num posts que as melhores conversas não são televisionadas. E eu penso que aqui também as pessoas levam isso mais á sério. Elas são muito mais reservadas e não se reúnem tanto. Os designers daqui são incrivelmente bons mas não procuram tanto os holofotes como no Brasil.
Muito parecido com os americanos, o brasileiro gosta de se conectar e aparecer, o que não é uma coisa ruim.
A comunidade de design está a crescer aqui e é lindo ver isso acontecendo diante dos meus olhos e ver que também faço parte disso, mas para achar essas comunidades e pessoas é preciso quase catar na unha. Para entrar na comunidade Friends of Figma Portugal, por exemplo, procurei um dos organizadores pelo Twitter, que é uma rede muito forte aqui.
Embora a pesquisa acadêmica seja mais difundida no Brasil, aqui a academia é muito valorizada. Isso acontece bastante por toda a Europa. Dá um certo ar de gente grande, com um valor muito maior para as empresas. Embora tenha ouvido colegas reclamarem da grade engessada e tradicional, muitas vezes ultrapassada e com pouca pesquisa experimental ainda é a melhor forma de fazer conexões por aqui.
O design aqui tem um pé a mais no artístico e talvez menos no estratégico, deixando os designers um pouco mais tímidos para falar com Product Managers e engenheiros, e mais distantes de ferramentas de inteligência de negócio com BI e métricas de Design. Talvez uma herança do Design Gráfico acadêmico e agências de design de onde boa parte desses profissionais vem.
Em Portugal, o ensino centrado no utilizador não é novo e tem vindo a evoluir, mas ainda está a dar os primeiros passos. Muitas empresas ainda veem o UX e UI designer como um webdesigner que desenha e desenvolve. Pode ser visto em boa parte das vagas, exigências como javascript, htm e css.
Nas universidades algumas disciplinas ainda aplicam aula de UI design usando o photoshop. A sensação é que o Brasil está bem mais à frente ao nível de ferramentas, metodologias e colaboração.
Porém a coisa muda totalmente de figura quando se fala de empresas maiores. Empresas como Farfetch, Millenium, OutSystems, TAP, entre outras estão muito a frente com cargos de UX muito bem definidos, contando com grandes equipes formadas por especialistas de vários países e com uma cultura de design forte. Talvez abrir mais os portões e compartilhar conteúdo de uma forma menos burocrática ajude a dissolver essa bolha e o brasileiros já perceberam isso.
Algo interessante é que aqui os UX Designers ainda atuam em tipos de funções bem mais vastas enquanto em outros países como Reino Unido, por exemplo a especialização fala mais alto há bem mais tempo. Por exemplo é mais comum ter pessoas especializadas em Research, outras só em interação e motion. Outro ponto é que as empresas tendem a contratar pessoas que seguem uma linha de área de atuação e não pulam tanto entre áreas distintas.
Data visualization é um termo frequente nas conversas e artigos. Sabendo que a experiência está associada à sua utilização, ao contexto do problema-espaço onde será utilizado, os dados entram com papel importante como ferramenta para entender o contexto de forma quase cirúrgica.
Hoje a área de UX Design por aqui ainda é muito matricial, focada em entregas pra garantir as próximas etapas. Porém, vejo uma tendência em focar no negócio e na parte mais estratégica do design, e por conta disso, menos na fidelidade visual. A ideia é que em breve nem seremos mais chamados de UX Designers. Todos estarão focados em desenhar uma experiência melhor para os usuários; programadores, redatores, UX researchers, designers visuais, da forma mais colaborativa possível. Então imagino que o cargo de UX não será mais necessário e se tornará talvez um departamento.
O produto reflete muito do que a empresa é. Então haverão muito designers de negócios. O nosso papel como designer será muito mais o de buscar clareza do que de executar processos pré-definidos.
Imagino que isto será uma evolução espontânea. Menos interface e melhor experiência. Os problemas cada vez mais complexos que enfrentamos como designers e cidadãos exigem uma abordagem mais cuidadosa e criativa.
Cada vez mais pessoas estão a descobrir que design é sobre construir junto. É sobre comunidade. Espero que a nossa comunidade de Ux Designers brasileiros aqui consigam trazer esse olhar para as entranhas do mercado de UX Português. Afinal nós formamos uma bela dupla :)