Com mais de 10 anos de experiência no mercado Digital, graduada em Marketing pela Anhembi Morumbi, com especializações na área de UX Design, Design Thinking, Inovação, Métodos Ágeis de Desenvolvimento é Pós-Graduada em Comunicação e Mídias Digitais pela ESPM, tem passagem por agencias e pelo mercado financeiro, atualmente na Natura & Co Latam é responsável pelo CoE de UX & Service Design, foi corresponsável pela criação do Núcleo de Inovação Digital área que iniciou a transformação Digital da Natura. Facilitadora de Mindfulness é também co-criadora do App Meditação Natura, produto inspirado em um programa presencial para promover bem-estar e redução de stress criado em uma parceria da Natura com o Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein, por meio de seu Instituto do Cérebro, e pela Associação Palas Athena.
Este é um artigo sobre a vida e uma visão do nosso papel no mundo. Mas também é um artigo que, assim como o título, tem muito mais perguntas do que respostas.
Um momento de reflexão sobre nossas próprias vidas, carreira, nosso atual contexto pandêmico e uma abordagem que nos ajuda a perceber o porquê de as coisas serem como são. Tenho pra mim; que como designers adoramos problemas, somos criaturas reflexivas, questionadoras, sempre em dúvida criativa... sempre conscientes (ou não) de que todo avanço no conhecimento expande o escopo de nossa ignorância.
Digo isso, pois, em 2020, fomos desafiados de forma nunca antes vista a enfrentar a maior crise humanitária dos últimos tempos com o surgimento da COVID-19, que não só trouxe à tona a fragilidade da vida humana, que já seria o suficiente para nos causar medo, angústia e ansiedade, mas também deu luz a todos os desequilíbrios do nosso ecossistema global, seja no âmbito social, financeiro ou ambiental. Nunca vivemos de forma tão extrema o mundo VUCA.
Como designers fomos ainda mais desafiados, pois sempre fomos reconhecidos como profissionais proficientes nas chamadas "habilidades do futuro", aquelas descritas pelo Fórum Econômico Mundial como fundamentais para viver no mundo volátil, incerto, complexo e ambíguo... Habilidades como: solução de problemas complexos, pensamento crítico e sistêmico, criatividade e inovação, tomada de decisão, orientar e servir, liderança, colaboração, negociação, flexibilidade cognitiva, aprendizagem contínua e, por fim e talvez o cerne deste artigo, a inteligência emocional.
Fomos desafiados em nosso trabalho a mediar perguntas como:
Nosso modelo de negócio e as lideranças de nossas organizações estão preparados para atuar no novo mundo que emerge? Em uma nova economia, no novo normal?
Como Designers, estamos prontos de verdade? Como comunidade, estamos construindo repertório para um pensamento e atuação sistêmicos para ajudar a gerar negócios melhores para o mundo?
Assistimos pela TV e pelas redes sociais a Natureza se regenerando, enquanto nós humanos estávamos amedrontados trancados dentro de casa. Os pássaros puderam ser ouvidos. Alguns pássaros param de cantar quando há barulho. O confinamento dos seres humanos coincidiu, para certas espécies, com o período de acasalamento. É o caso do sapo-comum e da salamandra-malhada, que são frequentemente atropelados quando atravessam as ruas. No Parque Nacional Calanques, perto de Marselha (sudeste da França), fechado ao público pelo confinamento, a natureza e os animais retornaram às suas áreas naturais em uma velocidade surpreendente, Os canais de Veneza, por exemplo, ficaram mais limpos sendo possível até mesmo ver os peixes. – opa... parece que aqui temos mais um ponto importante neste artigo, sobre o ecossistema se autogerenciar e regenerar sem nós, humanos!
O Planeta não precisa de nós, mas nós precisamos dele. Não só para sobreviver, mas também para aprender, evoluir... Como um ecossistema que se autorregenera é complementar, simbiótico, interdependente junto a humanidade?
Podemos usar a abordagem da regeneração e da gestão bioinspirada, que já são aplicadas com sucesso no design de produtos físicos e também na arquitetura de serviços, processos, estratégias e relacionamentos nas organizações? Minha resposta imediata é uma retórica:
Como ajudar a regenerar o mundo exterior, sem regenerar o que somos, como somos por dentro?
Esse questionamento, que já era meu estudo individual em minhas práticas meditativas, passou a ser a inspiração para a intensa rotina de facilitações de mindfulness que ampliaram significativamente desde que a pandemia iniciou. Para quem só me conheceu agora, além de liderar um time de designers incríveis em uma multinacional Brasileira de bens de consumo, também sou facilitadora de práticas meditativas nesta mesma empresa há 2 anos.
Você pode estar se perguntando: O que a minha prática de meditação tem a ver com o design, e com todos os questionamentos anteriores? Eu sei que para quem nunca praticou meditação, nem sempre essa correlação é óbvia, e por isso explico… Mindfulness é uma prática de atenção plena ao momento presente, sem julgamentos, que nos leva a um estado mental de ampliação de consciência e nos encaminha à mudança de percepção do mundo em que vivemos: do pensamento cartesiano à visão sistêmica, do ostracismo à interdependência do "interser", da mediocridade à grandeza do ser humano que somos.
E daí vem a correlação sobre a meditação como resposta para o design regenerativo. É sobre o resgate de como somos na essência, como único caminho para iniciar a abordagem da regeneração e da gestão bioinspirada de forma visceral e consistente em nosso trabalho como designers.
Monja Coen traz isso de forma primorosa:
"Nós, humanos, temos capacidade para expandir a consciência ética. Essa consciência é o fator mais importante para a transformação da humanidade. Mas esta conquista é possível apenas a partir do autoconhecimento. Estamos conectados com tudo e todos. Precisamos aprender a usar esse conhecimento para o bem de todos os seres."
Como designers, seremos responsáveis sobre a visão de mundo e sistema de valores que vamos redesenhar em nossos negócios, economias e tecnologias, e depende de nós torná-los regenerativos e sustentáveis, ao invés de destrutivos.
É necessário e imperativo aprender com a Natureza. Observar a vida em sua essência todos os dias, começando por nós, e nos prepararmos para conseguir absorver toda a sabedoria da Natureza, que age maravilhosamente à sua maneira, impiedosa e indiferente aos caprichos e sistemas artificiais humanos, aqui está a fonte fecunda de lições valiosas para aplicarmos no mundo melhor que precisamos e temos a oportunidade de redesenhar.
Neste contexto, precisaremos de designers ainda mais humanos, que transcendam os limites de produtos, serviços e novas tecnologias, mas que sejam hábeis em resgatar aquela verdade adormecida pelo modo de vida contemporâneo: A Natureza somos nós, porque somos parte da Natureza. A partir dessa compreensão, talvez tenhamos uma maior consciência sobre a necessidade de assumirmos nossa responsabilidade regenerativa.
O desafio tem uma magnitude global, mas as respostas estão dentro de cada um de nós. Basta se sentar em uma postura estável, relaxar os ombros, abrir o peito, fechar os olhos e levar sua atenção para a entrada e a saída do ar nas narinas, a cada inspiração e expiração...
Que possamos juntos ser a vida da terra, na terra que sonhamos interser*.
*Na essência Interser é um neologismo criado pelo mestre budista vietnamita Thich Nhat Hanh (nomeado para Prêmio Nobel da Paz), que significa a forte intercomunicação de todos os seres, de todos os reinos, de tudo que faz parte do universo. Mais que comunicação, uma interdependência mútua de tudo.