Designer, Pesquisador, Lead, Instrutor e palestrante sobre DesignOps e ROI de UX, além de entusiasta da cultura de inovação no desenvolvimento de produtos e serviços digitais.
Não é de hoje que venho falando que DesignOps ou qualquer outro nome que você gostaria de chamar, como program management ou design management não só é imprescindível para a evolução do nosso mercado, para levantar a tal da régua de qualidade, mas é uma coisa bem mais antiga que o próprio design como conhecemos hoje. E para 2021 e o futuro, será ainda mais imprescindível que entendamos como isso se reflete no nosso dia a dia.
Mas como assim? Um termo de 2017 é mais antigo que o próprio design? Sim, e eu vou te explicar aqui o por quê. Primeiro vamos analisar o nome. DesignOps ou Operações de Design (Design Operations do inglês) é relacionado ao design, mas o que significa Operações?
É por definição a combinação de todas as ações técnicas e administrativas destinadas a permitir que um item cumpra uma função requerida, reconhecendo-se a necessidade de adaptação na ocorrência de mudanças nas condições externas. Ou seja, é garantir, por todos os meios possíveis, que estamos realizando uma gestão de qualidade sobre os processos e resultados obtidos nas rotinas diárias da empresa.
A gestão da qualidade é uma ferramenta estratégica que promove uma visão sistêmica de toda empresa e está alinhada a conceitos e práticas reconhecidos mundialmente. É uma ação voltada para dirigir e controlar todos os processos organizacionais.
A preocupação com a qualidade de bens e serviços como a conhecemos hoje surgiu na década de 20 com o estatístico norte-americano Walter Andrew Shewhart, que desenvolveu um sistema para mensurar as variabilidades encontradas na produção de bens e serviços.
Esse sistema ficou conhecido como Controle Estatístico de Processo (CEP). Por ocasião da Segunda Guerra Mundial, os EUA incentivaram a utilização do CEP pelos seus fornecedores de produtos bélicos do exército, ajudando a disseminar os novos métodos de controle de qualidade no mundo. Posteriormente, Shewhart também desenvolveu um método essencial da gestão da qualidade, amplamente utilizado até os dias atuais, o ciclo PDCA (Plan, Do, Check e Action).
Contudo, com o final da guerra, foi a vez do Japão investir em gestão de qualidade para iniciar um processo de reconstrução por meio de suas indústrias. Onde por volta de 53, o engenheiro japonês Taiichi Ohno, onde impulsionado pela necessidade de reduzir o desperdício, devido a falta de matéria prima, Ohno teve a idéia, que se concretizou no Sistema Puxado, em que o cliente pegava o produto e o estoquista fazia a reposição. Desta forma, não haveria a necessidade de grandes estoques, evitando o desperdício e a produção em massa. Isso deu origem as práticas conhecidas como o Método Kanban, além de inspirar muitas outras.
A gestão de qualidade deveria ser uma preocupação constante, não importa em qual área trabalhemos, seja na gestão de produtos, desenvolvimento, design, jurídico, vendas etc, pois é praticando os princípios da gestão de qualidade, que podemos garantir que mesmo nos processos mais complexos, nosso trabalho flua e entregue algo de forma concreta e inquestionável, ainda mais em períodos de incerteza, como os tempos atuais, darmos valor para os processos, seguí-los de forma clara e prática, vai ser um diferencial. Pois no design isso não é diferente, para entender melhor o que estou querendo, deixe-me introduzir os princípios da gestão de qualidade, com uma abordagem com foco em design:
As organizações devem atender as necessidades atuais e futuras de seus clientes, procurando exceder suas expectativas. Deve-se entender todas as necessidades e expectativas dos clientes em relação ao preço, produto, prazo de entrega, confiabilidade, desejabilidade etc.
No design: O que é o design sem falar com o cliente? Mas com esse princípio, precisamos garantir que estamos realmente traduzindo as suas necessidades e transpondo elas para o produto ou serviço que projetamos.
O líder tem a missão de estabelecer e comunicar onde a organização pretende chegar através da formulação de estratégias e políticas que traduzem a visão e as metas da organização, delegando poder e envolvendo as pessoas através da motivação e capacitação, para que as metas sejam alcançadas.
No design: Líderes de design, precisam ser gestores de pessoas, aplicar o design com foco no ser humano, diretamente com seus liderados e pares, valorizando seu trabalho, delegando o poder e o envolvimento das pessoas para alcance dos objetivos organizacionais.
Pessoas representam a essência da organização e suas habilidades deverão ser usadas em benefício dela mesma, através de seu total envolvimento com as tomadas de decisões e com os processos de melhoria.
No design: Chega de topdown, precisamos envolver pessoas nas decisões, estratégicas ou não, envolver as pessoas nas decisões, aumenta a confiança do colaborador na empresa, torna seu trabalho mais agradável e objetivo, pois ele sente que contribui efetivamente, mais do que apenas executar o que lhe é pedido.
Gerenciar os processos de forma eficiente, trará benefícios para a organização, mas para isso deverão ser muito bem definidos, através do controle de suas entradas e saídas, sua interação com os outros departamentos da organização, definindo claramente os responsáveis pelos processos e levando-se em conta tanto o cliente interno como o externo, fornecedores e outras partes interessadas no processo.
No design: Design tem se tornado cada vez mais complexo, com subáreas se destacando, como conteúdo, pesquisa, user interface, motion design e se relacionando cada vez mais com outras áreas da companhia, como branding, jurídico, vendas, SAC etc. Por tanto, vamos obter resultados mais precisos e com menos desgaste dos recursos, escalando processos ao invés de pessoas, pois é importante que dentro dos processos, usemos mais a gestão dos recursos humanos, que precisa apresentar um sistema eficaz de contratação, educação e treinamento das pessoas, levando-se em conta as necessidades da organização, o que gerará uma força de trabalho mais comprometida e eficiente.
Sabemos que os processos interagem entre si, o que gera o resultado do sistema como um todo. Portanto, os processos inter-relacionados deverão ser identificados e gerenciados como um sistema, portanto a abordagem desse sistema irá criar planos desafiadores que alinham objetivos e metas individuais aos objetivos globais da organização, permitindo uma melhor visão da eficácia dos processos, através do entendimento das causas dos problemas encontrados, o que gerará ações de melhoria, além de reduzir as barreiras funcionais e melhorar o trabalho em equipe.
No design: Abordar o design como um sistema irá possibilitar um mundo de melhorias, conectando processos através do próprio design, invés de tentar apenas encaixar processos de design, onde não há.
Um dos benefícios da melhoria contínua é a criação do planejamento, tanto estratégico como dos negócios, adequando os objetivos de melhoria com os recursos para alcançá-los, através do envolvimento e motivação das pessoas, o que fará com que a organização se torne mais competitiva e gere melhores resultados.
No design: Mais do que melhorar, é encontrar os momentos corretos de melhoria, alinhados a estratégia do produto ou serviço, por tanto, como designers temos uma importância enorme em auxiliar a tomada de decisões, sobre o que precisamos melhorar, e também sobre quais barreiras precisam ser quebradas, que possam impedir a melhoria.
Baseia-se na análise de informações e dados antes de tomar qualquer decisão, tomando o cuidado de que sejam confiáveis e acessíveis, ou seja, de fácil entendimento, o que levará a tomada de decisão através da experiência e intuição.
No design: Trazermos uma abordagem pé no chão ao design e a gestão do design nunca foi tão importante, pois é fácil se deixar levar por desejos e desafios, realizando coisas que não trazem valor a empresa e se afastar das decisões factuais.
A organização e o fornecedor precisam apresentar uma relação consistente de parceria, gerando desta forma a confiabilidade que um deverá ter no outro.
No design: Talvez o princípio que mais parece distante do design, mas que se mudarmos a ótica da organização, para os parceiros diretos do designer, como gerentes de produto e desenvolvedores, é imprescindível que o relacionamento entre eles esteja funcionando de forma consistente e confiável, estabelecendo um comprometimento que se reflete na qualidade dos produtos e serviços projetados.
Estes princípios podem ser exercitados diariamente, pois é importante que o time de design tenha uma visão clara da importância da qualidade e como consequência, dos princípios que garantem o seu sucesso perante a empresa, e quando falamos do design, em específico, é a qualidade que garante que o design traga resultados reais para a empresa, não o contrário, essa é a minha visão para 2021, espero que tenham gostado.